O Estado de S. Paulo
Há cada vez mais governos responsáveis de centro-direita e de centro-esquerda na região
O pêndulo político da América Latina está
indo para a direita: as eleições presidenciais mais recentes e as que se
aproximam mostram que, com algumas exceções, a região está se afastando dos
populismos de esquerda que governaram no início deste século.
As eleições presidenciais do dia 19, na Bolívia, são um bom exemplo. Após quase duas décadas de governos de esquerda, o partido governista Movimento ao Socialismo (MAS) sofreu uma derrota esmagadora no primeiro turno, em agosto. Agora, dois candidatos de direita ou centro-direita – o senador Rodrigo Paz e o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga – disputarão o segundo turno. O que é igualmente importante, o vencedor, provavelmente, terá uma confortável maioria no Congresso.
A Bolívia não é um exemplo isolado. No início
deste ano, o presidente de centro-direita Daniel Noboa venceu no Equador, após
as vitórias dos candidatos de direita na Argentina e no Paraguai, em 2023. A
tendência pode continuar nos próximos meses se, como sugerem pesquisas, um
candidato de direita ou extrema direita vencer o segundo turno no Chile, em
dezembro, e nas eleições no Peru e na Colômbia, no início de 2026.
É claro que a guinada regional para a direita não é uniforme. No Uruguai, um presidente de esquerda moderada venceu recentemente. Os dois maiores países da região – Brasil e México – têm governos de centro-esquerda; a Colômbia tem um presidente de esquerda cada vez mais radical, e os ditadores de Venezuela, Cuba e Nicarágua continuam agarrados ao poder.
No entanto, se as pesquisas se mantiverem,
nesta época do ano que vem poderá haver um bloco de governos de centro e
centro-direita em Argentina, Chile, Paraguai, Bolívia, Peru e Equador. Mais
adiante, talvez se juntem a eles a Colômbia e – menos provável, mas não
impossível – o Brasil.
Sergio Fausto, cientista político que dirige
a Fundação Fernando Henrique Cardoso, comentou que existe “uma mistura de
sentimento antigovernamental e um movimento à direita em toda a região”, que
poderia se refletir nas eleições legislativas e estaduais do Brasil em 2026.
Muitos fundos de investimento veem a América
Latina como um bloco homogêneo e evitam se aproximar quando veem focos de
instabilidade. A boa notícia é que há cada vez mais governos responsáveis,
tanto de centro-direita quanto de centro-esquerda, na região. A má notícia é
que a América Latina, como diz o velho ditado, nunca perde a oportunidade de
perder uma oportunidade.
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