Correio Braziliense
Seria mais do que justo conceder o Nobel da
Paz à ativista sueca Greta Thunberg ou aos jornalistas palestinos, incansáveis
heróis na documentação da guerra genocida encampada por Israel na Faixa de
Gaza
Quase sempre acho o Nobel da Paz fascinante e justo. É um prêmio dado a quem realiza contribuições reais e críticas para a paz no mundo. À exceção de uns poucos laureados, vejo que a escolha do Comitê Nobel Norueguês costuma ser pautada pela coerência. Em 27 anos de jornalismo, tive a honra de entrevistar dez dos 111 indivíduos premiados com o Nobel da Paz. Vi, em todos eles, humildade e senso de entrega pela causa. A queniana Wangari Maathai recebeu a honraria em 2004. Era meu último ano no jornal O Popular, de Goiânia, antes de ser contratado pelo Correio. Na manhã do anúncio do prêmio, Wangari atendeu ao telefonema com uma risada e confessou-me estar honrada pelo reconhecimento. Ela criou um movimento entre as mulheres do Quênia que plantou 51 milhões de árvores. Anos depois, em nova entrevista, mostrou simpatia e reagiu ao meu telefonema com uma pergunta: "Como eu poderia me esquecer de sua voz?". Vítima de um câncer, ela deixou-nos em 2011.
Citei as três laureadas para reforçar que o
Nobel da Paz não se curva a pressões de pretensos candidatos à láurea. Ao menos
até agora tem sido assim. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse
que não receber o prêmio seria um "insulto" e atribui a si mesmo a
façanha de ter colocado fim a oito guerras. O plano de paz para o Oriente Médio
seria a cartada final do republicano para massagear o próprio ego inflamado.
Trump omite que ajudou Israel a bombardear instalações nucleares do Irã.
Também parece não levar em conta que montou uma campanha de terror contra
estrangeiros não documentados de seu país e, ao arrepio do direito
internacional, determinou o bombardeio de supostas embarcações do Mar do Sul do
Caribe, perto da costa da Venezuela. Sem contar a tentativa de perpetuar-se no
poder depois que perdeu as eleições para Joe Biden.
Seria mais do que justo conceder o Nobel da
Paz à ativista sueca Greta Thunberg ou aos jornalistas palestinos, incansáveis
heróis na documentação da guerra genocida encampada por Israel na Faixa de
Gaza. Trump chegou a alegar que Barack Obama recebeu o Nobel e, portanto, ele
também mereceria. Agraciar o presidente republicano equivale a colocar em xeque
a credibilidade do Comitê Nobel Norueguês e do propósito do prêmio. É preciso
premiar "a paz que seja paz". Verdadeira, lúcida, desprovida de ego
ou de arrogância.
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