quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Tarcísio imita o pior de Bolsonaro. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Ao fazer piada com falsificação de Coca-Cola, governador lembra o padrinho e expõe descaso com vítimas do metanol

São Paulo concentra mais de 80% dos casos de intoxicação por metanol, incluindo as três mortes já confirmadas no país. Na segunda-feira, o governador Tarcísio de Freitas chamou a imprensa para comentar o assunto. Em tom de piada, afirmou: “No dia em que começarem a falsificar Coca-Cola, vou me preocupar”.

Tarcísio quer ser presidente e busca ser identificado como o herdeiro de Jair Bolsonaro. Para isso, parece disposto a copiar os piores traços do padrinho.

No início da pandemia, o então presidente tentou fazer graça ao ser questionado sobre o aumento de mortes causadas pela Covid-19: “Não sou coveiro, tá?”. Tempos depois, ele julgou apropriado debochar das famílias em luto: “Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”.

As falas expõem governantes indiferentes à dor de quem os elege. A diferença entre criador e criatura se esconde nos detalhes. Enquanto um receitava cloroquina, o outro prescreve refrigerante.

A crise do metanol começou no fim de setembro, com o registro de nove casos de intoxicação em São Paulo. Três dias depois, Tarcísio abandonou o estado e pegou um avião para visitar Bolsonaro na prisão domiciliar. Quando finalmente voltou ao trabalho, o governador divergiu da Polícia Federal e disse descartar o envolvimento do PCC na adulteração de bebidas. Pela convicção, era de esperar que ele esclarecesse a origem do crime em poucos dias. Ainda não aconteceu.

Aliados de Tarcísio ofendem a inteligência alheia ao descrever suas declarações como meros deslizes. O governador sabe o que diz e aonde quer chegar. No ano passado, após uma chacina policial, ele afirmou: “Pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí”. Em setembro, quando Bolsonaro marchava para a condenação, ele incitou coro contra o Supremo e chamou o ministro Alexandre de Moraes de “ditador” e “tirano”.

No dia em que Tarcísio fez a piada do refrigerante, Bruna Araújo de Souza, de 30 anos, tornou-se a terceira vítima da quadrilha do metanol. Ela vivia em São Bernardo do Campo, batalhava num salão de beleza e morreu após tomar suco de pêssego com vodca adulterada. Não há notícia de que o governador tenha ligado para consolar sua família. Após o gracejo com a Coca-Cola, ele arrematou: “A minha é normal”.

 

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