segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Duterte do Rio, por Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

A política de segurança pública de Duterte fracassou em cumprir o objetivo alegado

O governador do Rio, Cláudio Castro, demonstrou satisfação com o resultado da operação policial que deixou mais de uma centena de mortos no Complexo da Penha, na semana passada. Ele afirmou estar muito tranquilo em “defender o que foi feito”. A intenção, segundo ele, não era matar, mas isso acabou sendo necessário por causa da “retaliação” por parte dos traficantes. Quatro policiais morreram no confronto.

As falas de Castro lembram as justificativas que Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas entre 2016 e 2022, dava para a brutal guerra às drogas que ele comandou no arquipélago do Sudeste Asiático, marcada por chacinas e execuções extrajudiciais. Estima-se que 30 mil civis tenham morrido em meio à sua campanha contra as gangues.

Duterte costumava dizer que a polícia sempre agia em autodefesa, apesar de evidências e testemunhos de casos em que os mortos estavam desarmados ou que foram alvejados diversas vezes e pelas costas. Com frequência, os policiais plantavam provas falsas, como drogas e armas, junto às vítimas. Os métodos de Duterte eram conhecidos do tempo em que foi prefeito da cidade de Davao, como o de instrumentalizar milícias criminosas para combater traficantes. Ele apenas os expandiu para o nível nacional. “Muitos vão ser mortos até que o último traficante estiver fora das ruas” e “esqueçam as leis de direitos humanos”, eram algumas frases famosas do então presidente.

Atualmente, Rodrigo Duterte está preso em Haia, na Holanda, e aguarda julgamento por crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional. Ele foi detido em março deste ano em Manila, capital filipina. Sua política de segurança pública baseada em execuções de suspeitos, além de tudo, fracassou em cumprir o objetivo alegado de desbaratinar as gangues e reduzir o consumo de drogas.

Estudos acadêmicos identificaram que não houve mudança significativa nas taxas de criminalidade durante a sua presidência. O atual governo filipino diz que, ao contrário, os dados da segurança pública só melhoraram depois da saída de Duterte, com uma redução de 62% nos crimes entre 2022 e 2024, em comparação com 2016 a 2018. Houve, sim, um diminuição em 2020 e 2021, mas que coincidiu com a pandemia de covid-19, quando o lockdown fez os índices criminais cair em diversas partes do mundo por falta de oportunidades para os bandidos.

Cláudio Castro não deveria encontrar nenhum motivo para ser o Rodrigo Duterte do Rio.

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