sábado, 15 de novembro de 2025

Prisão, rotina dos presidentes, por André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Prisão é um risco permanente para quem se lança na política. O normal é cumprir um curto pedaço da pena, depois encontrar o caminho para a liberdade

A luta parlamentar que ocorre no Congresso em torno da aprovação do Marco Legal do Combate ao Crime Organizado é apenas uma faceta da disputa entre governo e oposição pela apropriação da narrativa sobre quem combate melhor o crime organizado ou desorganizado. Os brasileiros já manifestaram em diversas pesquisas de opinião que o maior problema brasileiro na atualidade é a criminalidade. E a administração do PT é percebida como leniente com os meliantes, considerados pessoas perseguidas pelo sistema econômico injusto. Essa curiosa visão da sociedade coloca toda comunidade em risco, porque a dona de casa que vai ao supermercado está ameaçada pela bandidagem. Ninguém gosta disso.

O fenômeno é representado no plano da política pelo surgimento do grupo de governadores de oposição, ou de direita. Eles pretendem aumentar penas e corrigir distorções que a mão leve do PT pretende introduzir no texto da prevenção do crime. Segurança é o ponto fraco do presidente Lula. É seu calcanhar de Aquiles. A vida de Lula já foi melhor. As últimas pesquisas de opinião demonstram que a distância entre ele e os principais candidatos de oposição está se reduzindo. É a fotografia do momento. 

O cenário da sucessão presidencial ainda esconde alguns ingredientes. Jair Bolsonaro está inelegível, além de condenado a uma longa pena de prisão pelo Supremo Tribunal Federal. Ou seja, ele está fora da eleição em 2026. A não ser que aconteçam surpresas muito surpreendentes nos próximos meses, Bolsonaro vai para a cadeia cumprir o mesmo destino de alguns políticos que tiveram momentos exitosos e espetaculares na política nacional. Fernando Collor, por exemplo, hoje vive recluso em Alagoas. Do ponto de vista político, ele perdeu capacidade de influir até na política estadual. Foi um cometa que surgiu na linha do horizonte, causou alvoroço e, depois, continuou sua caminhada em direção a coisa nenhuma. 

Eduardo Bolsonaro continua a viver nos Estados Unidos. Perdeu influência junto a Donald Trump.  E murchou. Não tem mais o que fazer lá. Aqui, corre o sério risco de ter o mandato cassado, porque ele trabalhou contra o país. É crime de lesa-pátria. Em qualquer cenário, ele vai pagar um preço elevado por sua campanha contra o Brasil nos Estados Unidos. Flávio Bolsonaro, senador, é mais tranquilo. Derrapa, às vezes, mas tenta ser um negociador. A questão é quantos votos de Bolsonaro ainda permanecerão vivos. Ou seja, quem ainda apoia o ex-presidente. Naturalmente, deverão surgir novas lideranças na direita, que tenderão a tomar o espaço de Jair Bolsonaro. Devem sair do grupo de governadores de oposição. Eles pretendem controlar a indicação do candidato contra Lula. Vai ser uma disputa interessante. Lula com a caneta e o poder, a direita brasileira tem dinheiro e votos.

Mas o Brasil é parte da América Latina, onde tudo pode acontecer. Lula ficou preso 580 dias, deixou a prisão e retornou à Presidência da República. Temer ficou preso algumas horas, mas experimentou ver o dia atrás das grades. Prisão é um risco permanente para quem se lança na política. Todos os ex-governadores do Rio de Janeiro passaram pela prisão. O normal é cumprir um curto pedaço da pena, depois encontrar o caminho para a liberdade. O ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy, viu o sol nascer quadrado por 20 dias. Depois, saiu e foi jantar em bom restaurante parisiense com sua Carla Bruni. Com Bolsonaro, deve-se cumprir o mesmo roteiro: um tempo atrás das grades e, depois, liberdade sob condições. Ele já estará com idade avançada e saúde comprometida. Seu futuro político está nos filhos.  

Só para esclarecer: quem nasce na Amazônia é amazônida. Quem nasce no estado do Amazonas é amazonense. Belém fica no estado do Pará, que não é o centro da Amazônia. A cidade foi a capital do estado do Grão-Pará e Maranhão, ao tempo em que a colônia do Brasil era dividida em dois estados: o do Grão Pará e o do Brasil. Grão Pará abrangia os atuais estados do Amazonas, Pará, Maranhão e Piauí. Do Rio Grande do Norte para baixo tudo era Brasil.  

Segundo o IBGE, a população da Amazônia é de 27 milhões de habitantes. A primeira capital do estado do Amazonas foi Barcelos. Depois, a capital foi transferida, em outubro de 1669, para Manaus, local onde os rios Negro e Solimões se encontram e fazem o Rio Amazonas. No episódio da Independência do Brasil, a população do Grão Pará queria continuar ligada a Portugal, como era até aquela data. Militares enviados pelo almirante Cochrane ameaçaram bombardear Belém, em agosto de 1823, e obrigaram os locais a aderir à jovem República brasileira. Ou seja, os amazônidas se tornaram brasileiros à força, depois da Independência do Brasil.

 

 

 

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