terça-feira, 24 de abril de 2012

Crédito foi fraco em março:: Vinicius Torres Freire


Banca estatal já respondia por dois terços do aumento do crédito desde outubro. Terá fôlego para mais?

O crédito para pessoas físicas não deve ter crescido quase nada em março. Sim, maio já está aí, mas apenas nesta semana sai o balanço oficial das operações de crédito daquele mês. A estimativa do março murcho foi divulgada ontem pelos economistas da Febraban, a associação nacional dos bancos.

Abril terá sido muito melhor? Ao menos na propaganda, os bancos públicos teriam começado a pisar no acelerador na segunda semana do mês. Os privados, na terceira semana, se tanto. Mas desde outubro de 2011 já eram as instituições financeiras estatais que vinham liderando a concessão de empréstimos.

Entre o fim de setembro e fevereiro, os estatais responderam por cerca de dois terços do aumento do estoque de crédito (do aumento total do dinheiro emprestado e não pago no período).

Nos 12 meses anteriores, a situação era mais ou menos "normal". Os bancos privados respondiam por pouco mais da metade do aumento do estoque de crédito.

A campanha de Dilma Rousseff contra os juros altos foi detonada quando o governo percebeu que a recuperação econômica não viria no primeiro trimestre de 2012. A presidente e seus economistas atribuíram parte do marasmo à lerdeza dos bancos privados e à alta das taxas de juros verificada desde novembro, na contramão da taxa básica, a Selic, que caía desde agosto.

Teria sido possível virar o jogo ainda em abril?

A pergunta tem mais interesse político do que econômico. Não será o comportamento mais ou menos agressivo dos bancos em um ou dois meses que vai determinar o crescimento da economia neste ano. Mas o resultado da campanha do governo contra a banca privada pode dizer alguma coisa sobre as condições da concorrência no setor bancário e alterar a "correlação de forças" do debate político-econômico.

Isto é, se houver mais crédito e juros menores depois da "bronca" da presidente e da campanha da banca estatal, o governo e os adeptos de políticas mais intervencionistas vão ficar por cima da carne seca.

Não se trata de dizer que o governo terá provado que todas as suas queixas tinham fundamento.

De fato, entre o fim de 2011 e o início de 2012 os bancos estatais e os privados estavam se comportando mais ou menos como entre 2008 e 2009, meses de crise muito feia no mundo e de medo no Brasil. Os estatais seguraram a peteca da economia; os privados se retraíram.

Mas em 2008-09 houve seca forte de crédito externo, as indústrias demitiam em massa, havia boatos sobre bancos micados no Brasil e não era então absurdo pensar que haveria depressão mundial.

No fim do ano passado o ambiente ficou tenso na finança do mundo. O medo foi grande o bastante até para intimidar o investimento de empresas aqui do Brasil. Porém é um exagero quase ridículo comparar o terror de 2008 com o susto de 2011. De resto, o crédito no fim de 2011 crescia ainda a 18% ao ano, em termos nominais.

Os bancos privados dizem que inadimplência alta e persistente, perspectiva de crescimento mais baixo e redução da demanda (da capacidade de endividamento do consumidor) foram os motivos da retranca no início de 2012 e da alta de juros. Mas tal situação ainda não havia mudado muito até abril.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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