Banca estatal já respondia por dois terços do aumento do crédito desde
outubro. Terá fôlego para mais?
O crédito para pessoas físicas não deve ter crescido quase nada em março. Sim,
maio já está aí, mas apenas nesta semana sai o balanço oficial das operações de
crédito daquele mês. A estimativa do março murcho foi divulgada ontem pelos
economistas da Febraban, a associação nacional dos bancos.
Abril terá sido muito melhor? Ao menos na propaganda, os bancos públicos
teriam começado a pisar no acelerador na segunda semana do mês. Os privados, na
terceira semana, se tanto. Mas desde outubro de 2011 já eram as instituições
financeiras estatais que vinham liderando a concessão de empréstimos.
Entre o fim de setembro e fevereiro, os estatais responderam por cerca de
dois terços do aumento do estoque de crédito (do aumento total do dinheiro
emprestado e não pago no período).
Nos 12 meses anteriores, a situação era mais ou menos "normal". Os
bancos privados respondiam por pouco mais da metade do aumento do estoque de
crédito.
A campanha de Dilma Rousseff contra os juros altos foi detonada quando o
governo percebeu que a recuperação econômica não viria no primeiro trimestre de
2012. A presidente e seus economistas atribuíram parte do marasmo à lerdeza dos
bancos privados e à alta das taxas de juros verificada desde novembro, na
contramão da taxa básica, a Selic, que caía desde agosto.
Teria sido possível virar o jogo ainda em abril?
A pergunta tem mais interesse político do que econômico. Não será o
comportamento mais ou menos agressivo dos bancos em um ou dois meses que vai
determinar o crescimento da economia neste ano. Mas o resultado da campanha do
governo contra a banca privada pode dizer alguma coisa sobre as condições da
concorrência no setor bancário e alterar a "correlação de forças" do
debate político-econômico.
Isto é, se houver mais crédito e juros menores depois da "bronca"
da presidente e da campanha da banca estatal, o governo e os adeptos de
políticas mais intervencionistas vão ficar por cima da carne seca.
Não se trata de dizer que o governo terá provado que todas as suas queixas
tinham fundamento.
De fato, entre o fim de 2011 e o início de 2012 os bancos estatais e os privados
estavam se comportando mais ou menos como entre 2008 e 2009, meses de crise
muito feia no mundo e de medo no Brasil. Os estatais seguraram a peteca da
economia; os privados se retraíram.
Mas em 2008-09 houve seca forte de crédito externo, as indústrias demitiam
em massa, havia boatos sobre bancos micados no Brasil e não era então absurdo
pensar que haveria depressão mundial.
No fim do ano passado o ambiente ficou tenso na finança do mundo. O medo foi
grande o bastante até para intimidar o investimento de empresas aqui do Brasil.
Porém é um exagero quase ridículo comparar o terror de 2008 com o susto de
2011. De resto, o crédito no fim de 2011 crescia ainda a 18% ao ano, em termos
nominais.
Os bancos privados dizem que inadimplência alta e persistente, perspectiva
de crescimento mais baixo e redução da demanda (da capacidade de endividamento
do consumidor) foram os motivos da retranca no início de 2012 e da alta de
juros. Mas tal situação ainda não havia mudado muito até abril.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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