O
Nordeste está, novamente, penando com a falta d'água. A impiedosa seca que
atinge a região reforça a constatação dos equívocos que envolvem a bilionária
obra da transposição do rio São Francisco. É a típica situação em que os
recursos públicos são empregados para fazer proselitismo, e não para o que
deveriam: melhorar a vida das pessoas.
Atualmente,
261 municípios nordestinos estão em situação de emergência. Os principais
estados atingidos são Bahia, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe
- onde a presidente da República desembarcará hoje com um séquito de
ministros para discutir a seca com governadores da região.
A
estiagem está dizimando a produção agrícola - a maior parte de subsistência -
do Nordeste. Em Pernambuco, por exemplo, 95% das lavouras, principalmente de
milho e feijão, já se perderam. Cerca de 100 mil produtores foram atingidos e
cerca de 300 mil toneladas de alimentos deixaram de ser cultivados. Também os
rebanhos bovino, caprino e ovino, que somam seis milhões de cabeças, estão
sob ameaça.
Cerca de
2,5 milhões de pessoas em 595 municípios nordestinos estão recebendo água por
meio de carros-pipa controlados pelo Exército. Não é um contrassenso que isso
esteja acontecendo numa região onde estão sendo despejados R$ 8,2 bilhões
justamente para prover água?
Mais que
mil palavras, a dura realidade enfrentada atualmente pelos nordestinos
escancara a falsidade do discurso petista. A transposição do rio São
Francisco foi apresentada ao país como a redenção do déficit hídrico no
semiárido e no sertão do Nordeste. Mas até hoje não passou de mera peça de
publicidade, e de péssima qualidade.
O mais
grave é que, possivelmente, o drama da falta d'água na torneira não será
resolvido com as obras da transposição. Apenas 4% da água desviada pelos
canais será usada para consumo humano. Em contrapartida, 70% da água
transposta irá para irrigação em grandes projetos de exportação e 26% para
uso industrial.
Pior
ainda, os nordestinos vão pagar muito caro pela pouca água que chegará a suas
casas. O custo do metro cúbico de água a ser futuramente fornecida por meio
dos canais da transposição é estimado pelo governo em R$ 0,15, ou quase dez
vezes o preço médio cobrado no país.
Além do
marketing deslavado, nada justifica a obsessão do governo petista pelas obras
da transposição. O Nordeste carece, sim, de auxílio do poder público federal,
mas não na forma de imagens manipuladas de TV. O que se pede é condições de
vida mais dignas.
Há muito
que o governo central poderia fazer para auxiliar a região, como incentivo a
bem sucedidos projetos de conservação da água, apoio à formação de
cooperativas de produtores, construção de estradas vicinais para escoamento
da safra.
Mas a
megalomania petista preferiu torrar bilhões numa obra envolta em polêmica - e
que, aliás, tem na Construtora Delta, sempre ela, um de seus maiores
executores. A transposição é um dos maiores contratos da empresa - que, desde
2004, recebeu R$ 3,7 bilhões do governo federal - dentro do PAC.
Em
fevereiro, Dilma Rousseff visitou canteiros da transposição. Sua intenção
era, com o olho do dono, fazer a obra engordar e acelerar. Nada, porém,
mudou. Hoje, três lotes (3, 4 e 7) estão abandonados e terão de ser licitados
novamente. Tudo isso depois de a obra ter ficado 71% mais cara e ter tido em
2011, o primeiro da atual gestão, seu pior avanço: apenas 5%.
A
presidente e sua trupe de ministros terão de suar a camisa para mostrar que
estão agindo adequadamente para minorar o drama da falta d'água no Nordeste.
Da forma como as iniciativas têm sido tomadas, parece que o que mais
interessa ao PT é manter a região sob cabresto, numa perpetuação da nefasta
indústria da seca.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
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terça-feira, 24 de abril de 2012
A indústria da seca
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