terça-feira, 24 de abril de 2012

Extrema-direita faz cair governo holandês


Premier renuncia ante pressão sobre ajuste exigido pela EU

Deborah Berlinck

GENEBRA. A crise na Europa continua castigando quem está no poder. Um dia após o presidente Nicolas Sarkozy sofrer uma derrota no primeiro turno das eleições francesas, ontem foi a vez de o governo da Holanda cair. Só nos últimos três anos, foram 15 os líderes europeus enxotados pela crise. Os holandeses são os únicos, junto com os alemães, a manter a nota AAA, a máxima dada pelas agências de classificação de risco.

Já na República Tcheca, o primeiro-ministro Petr Necas, de centro-direita, está por um fio. Acuado por divisões e brigas na coalizão por medidas de austeridade impopulares, Necas convocou o Parlamento na próxima sexta-feira a dar um voto de confiança sobre seu governo. Ele anunciou ontem que provavelmente já assegurou a maioria dos votos.

Na Holanda, ironicamente, quem se viu forçado a renunciar foi Mark Rutte, o primeiro-ministro que mais criticou os vizinhos por fracassarem em ajustar suas contas. E Rutter caiu por ter falhado em aprovar, no fim de semana, um pacote de austeridade para reduzir o déficit a menos de 3%, nível exigido pela regra europeia.

O pacote que Rutte negociava previa cortes em ajuda a outros países e aumento da idade de aposentadoria dos holandeses de 65 para 66 anos. O principal aliado do primeiro-ministro, o populista de extrema-direita Geert Wilders, conhecido crítico da União Europeia, abandonou o encontro do fim de semana em protesto, alertando que seguir à risca regras europeias só vai prejudicar a economia holandesa.

Geert Wilders critica "ditadores de Bruxelas"

Ainda não há data para novas eleições, mas a oposição pressiona para que seja o mais breve possível. Amanhã, Rutte vai discutir com o Parlamento a data, bem como medidas provisórias para manter as finanças em ordem. Uma das agências de classificação de risco, a Fitch, alertou que a Holanda poderá perder um dos seus três A, como aconteceu com a França, dependendo do pacote de orçamento definido.

A crise no governo da Holanda é o exemplo mais vivo de um debate que divide hoje a Europa. A discussão é se as grandes economias, como a Holanda, deveriam adotar medidas de austeridade que estão causando trauma em Grécia, Espanha e Portugal.

Muitos economistas - e também a presidente Dilma Rousseff - alertam que, se todos os Europeus partirem para a austeridade, o continente não vai ter como retomar o crescimento.

Na Holanda, o Banco Central quer disciplina para manter as contas em ordem. Mas Wilders, do Partido para a Liberdade (PVV), deu um basta:

- Não queremos que nossos aposentados sofram por causa dos ditadores em Bruxelas.

A vice-presidente da Comissão Europeia, a holandesa Neelie Kroes, do mesmo partido de Rutte, chamou Wilders de hipócrita. Holanda e Alemanha, lembrou, foram os que mais lutaram para que a UE adotasse uma regra limitando em 3% o déficit de cada país no bloco.

O ministro das Finanças da Holanda, Jan Kees de Jager, disse que ainda é possível chegar a um acordo no Parlamento para mais cortes no Orçamento de 2013. A Holanda vai apresentar sua proposta de gastos a Bruxelas no dia 30 de abril.

- Mostraremos aos mercados financeiros que décadas de disciplina orçamentária na Holanda vão permanecer - disse Jager, antes de o premier apresentar a renúncia à rainha Beatrix.

Os mercados reagiram mal à confusão na Holanda e aos últimos indicadores das economias do continente. Ontem, de Paris e Frankfurt a Milão e Madrid, as bolsas sofreram violentas oscilações.

FONTE: O GLOBO

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