Premier renuncia ante pressão sobre ajuste exigido pela EU
Deborah Berlinck
GENEBRA. A crise na Europa continua castigando quem está no poder. Um dia
após o presidente Nicolas Sarkozy sofrer uma derrota no primeiro turno das
eleições francesas, ontem foi a vez de o governo da Holanda cair. Só nos
últimos três anos, foram 15 os líderes europeus enxotados pela crise. Os
holandeses são os únicos, junto com os alemães, a manter a nota AAA, a máxima
dada pelas agências de classificação de risco.
Já na República Tcheca, o primeiro-ministro Petr Necas, de centro-direita,
está por um fio. Acuado por divisões e brigas na coalizão por medidas de
austeridade impopulares, Necas convocou o Parlamento na próxima sexta-feira a
dar um voto de confiança sobre seu governo. Ele anunciou ontem que
provavelmente já assegurou a maioria dos votos.
Na Holanda, ironicamente, quem se viu forçado a renunciar foi Mark Rutte, o
primeiro-ministro que mais criticou os vizinhos por fracassarem em ajustar suas
contas. E Rutter caiu por ter falhado em aprovar, no fim de semana, um pacote
de austeridade para reduzir o déficit a menos de 3%, nível exigido pela regra
europeia.
O pacote que Rutte negociava previa cortes em ajuda a outros países e
aumento da idade de aposentadoria dos holandeses de 65 para 66 anos. O
principal aliado do primeiro-ministro, o populista de extrema-direita Geert
Wilders, conhecido crítico da União Europeia, abandonou o encontro do fim de
semana em protesto, alertando que seguir à risca regras europeias só vai
prejudicar a economia holandesa.
Geert Wilders critica "ditadores de Bruxelas"
Ainda não há data para novas eleições, mas a oposição pressiona para que
seja o mais breve possível. Amanhã, Rutte vai discutir com o Parlamento a data,
bem como medidas provisórias para manter as finanças em ordem. Uma das agências
de classificação de risco, a Fitch, alertou que a Holanda poderá perder um dos
seus três A, como aconteceu com a França, dependendo do pacote de orçamento
definido.
A crise no governo da Holanda é o exemplo mais vivo de um debate que divide
hoje a Europa. A discussão é se as grandes economias, como a Holanda, deveriam
adotar medidas de austeridade que estão causando trauma em Grécia, Espanha e
Portugal.
Muitos economistas - e também a presidente Dilma Rousseff - alertam que, se
todos os Europeus partirem para a austeridade, o continente não vai ter como
retomar o crescimento.
Na Holanda, o Banco Central quer disciplina para manter as contas em ordem.
Mas Wilders, do Partido para a Liberdade (PVV), deu um basta:
- Não queremos que nossos aposentados sofram por causa dos ditadores em
Bruxelas.
A vice-presidente da Comissão Europeia, a holandesa Neelie Kroes, do mesmo
partido de Rutte, chamou Wilders de hipócrita. Holanda e Alemanha, lembrou,
foram os que mais lutaram para que a UE adotasse uma regra limitando em 3% o
déficit de cada país no bloco.
O ministro das Finanças da Holanda, Jan Kees de Jager, disse que ainda é
possível chegar a um acordo no Parlamento para mais cortes no Orçamento de
2013. A Holanda vai apresentar sua proposta de gastos a Bruxelas no dia 30 de
abril.
- Mostraremos aos mercados financeiros que décadas de disciplina
orçamentária na Holanda vão permanecer - disse Jager, antes de o premier
apresentar a renúncia à rainha Beatrix.
Os mercados reagiram mal à confusão na Holanda e aos últimos indicadores das
economias do continente. Ontem, de Paris e Frankfurt a Milão e Madrid, as
bolsas sofreram violentas oscilações.
FONTE: O GLOBO
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