Primeiro encontro de apoiadores do PSB e da Rede expõe divergências
Documento de caráter preliminar recebe críticas dos dois grupos que se uniram para a eleição presidencial
Paulo Gama
SÃO PAULO - Aliados do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e da ex-senadora Marina Silva expuseram ontem suas divergências no primeiro encontro realizado pelos dois grupos para discutir um programa único para as eleições presidenciais de 2014.
Campos e Marina se esforçaram para mostrar afinidade em seus discursos e pediram aos aliados que se empenhem para superar suas diferenças, que vários fizeram questão de expor em público.
"Temos que procurar ser transparentes no que nos une e no que nos divide, até porque temos trajetórias próprias. Não temos de ter receio de afirmar nossas diferenças e divergências", justificou o ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra Coelho (PSB), aliado de Campos.
O encontro de ontem, que reuniu cerca de 150 militantes do PSB e da Rede em São Paulo, foi convocado para discutir um documento de referência da aliança, anunciada no início de outubro, quando Marina se filiou ao PSB após ter o pedido de registro da Rede Sustentabilidade negado pela Justiça.
O documento defende as conquistas dos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como a estabilidade econômica e a inclusão social, e prega em termos genéricos a adoção de novas práticas políticas e a construção do desenvolvimento sustentável.
Reconhece que "nas duas últimas décadas, o país evoluiu positivamente pela redução da vulnerabilidade da economia" e que "milhões saíram da pobreza", mas afirma que "questões estratégicas não têm recebido respostas à altura" do Estado.
"A sensação é que o documento é muito bom, mas não deixa claro, líquido e certo que nós viemos para mudar", disse o ex-secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente João Paulo Capobianco, aliado de Marina. "Estamos propondo uma mudança, não só manter e avançar."
Na apresentação das conclusões de um dos grupos de debate, Bezerra Coelho ignorou uma das principais bandeiras de Marina, a busca por fontes alternativas de energia.
"Não podemos fugir ao desafio de ampliar e qualificar a infraestrutura", disse. "Portos, saneamento, aeroportos, estradas, ferrovias, energia, petróleo, gás, tudo isso é a infraestrutura que precisa ser construída para que a gente possa melhorar a qualidade de vida da população e elevar a produtividade da indústria."
Também foi exposta preocupação de que a da "nova política" se transforme na negação da política e sobre a necessidade de resgatá-la como "espaço de ação nobre".
Ao final do encontro, Marina disse que as lacunas do documento foram positivas. "Imagina se a gente tivesse feito um documento tão completo que todos dissessem: Aprovado'? A bênção da falta nos fez completar um ao outro."
Os participantes das discussões de ontem apresentaram o que consideram os cinco principais desafios para o país. Fizeram propostas amplas, que devem orientar a sequência das discussões.
Os desafios indicados serão transformados em nova carta, que será discutida em encontros regionais e receberá contribuições pela internet. Entre os pontos mais citados pelos grupos estão as reformas política e administrativa, com mecanismos de transparência, e a definição dos limites do crescimento econômico sustentável.
Cargos
Entre as práticas políticas condenadas pelo documento inicial está a distribuição de "feudos do Estado" em troca de apoio no Legislativo. Em entrevista, Campos --que é apoiado por 14 partidos em Pernambuco-- disse que "é preciso fazer uma distinção".
"Não podemos achar que uma pessoa com filiação partidária não pode ocupar cargo público. Aí se cria outro tipo de preconceito", disse.
Campos também defendeu aproximação de Rede e PSB com o agronegócio, mas pregou que isso seja feito de uma maneira sustentável. "O mundo não quer comprar nada de quem não respeite os valores de que ele está em busca".
Fonte: Folha de S. Paulo
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