Os presidenciáveis Marina Silva e Eduardo Campos anunciaram um programa conjunto da aliança Rede/PSB a ser lançado em 2014, com foco no desenvolvimento sustentável, e atacaram, em documento, os "feudos no Estado".
Campanha Antecipada: Para tentar aparar arestas
Campos e Marina discutem programa, atacam feudos e tentam reduzir atritos na aliança
Sérgio Roxo
SÃO PAULO - Unidos há mais de três semanas, a ex-senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), lançaram ontem um projeto de debates internos para tentar aparar as arestas que ainda deixam em lados opostos seguidores da Rede e do PSB. Até março, a ideia é ter um esboço do programa conjunto para apresentar na campanha. E, de forma articulada, usaram seus discursos para avisar aos apoiadores que não aceitarão provocações que ponham em risco a aliança para 2014.
O tom da reunião foi definido em um encontro no domingo, na casa do deputado federal Walter Feldman (PSB-SP). Ficou decidido que o ponto de partida seria a discussão do programa da aliança, a partir de um texto apresentado ontem com três diretrizes: manter e avançar nas conquistas econômicas e sociais; democratizar a democracia; e adotar desenvolvimento sustentável. Apesar das críticas aos rumos da administração Dilma Rousseff em todos os segmentos, Marina deixou claro que pretende se valer do "melhor" legado dos governos Lula e Fernando Henrique.
As principais críticas ao atual governo estão na diretriz "democratizar a democracia" O texto diz que o "sistema político permanece impregnado de práticas atrasadas, permeadas por uma persistente cultura patrimonialista" e que as alianças devem se dar "em torno de afinidades programáticas e não em torno da distribuição de feudos dentro do estado" O documento ressalta que o modelo atual afasta a população da participação política. A mudança, conclui, se daria com controle social das políticas públicas.
A avaliação da atual política veio depois de outro capítulo, no qual reforça desigualdades na área social:
"A sociedade civil se fortaleceu e milhões de pessoas saíram da condição de extrema pobreza, mas as desigualdades sociais ainda são marcantes e questão estratégicas, como a "Educação, a Saúde e gestão pública, que demandam uma verdadeira revolução, não têm recebido resposta à altura, limitando-se a políticas isoladas" diz o trecho sobre as conquistas.
Necessidade de ouvir novos aliados
Ao discursar antes de Campos, Marina fez questão de alertar que, para a Rede, é importante ouvir posições diferentes do PSB:
— O Caetano Veloso diz que Narciso acha feio o que não é espelho. Nós estamos aqui para achar bonito o que não é espelho. Porque não é possível estabelecer a troca na mesmice. Só na diferença — disse Marina.
Para a ex-senadora, os aliados precisam estar prontos para discutir como novo parceiro todos os temas, inclusive aqueles que não integram a linha de pensamento da Rede.
— Às vezes a gente tem o vício da escuta seletiva: eu gosto de sustentabilidade e tudo que o PSB disser sobre sustentabilidade eu escuto; tudo que a Rede falar sobre desenvolvimento econômico, inclusão social, o PSB escuta, quando vem com esse papo de ecologia, isso já não escuto.
Marina destacou que o programa da aliança ainda não está pronto.
— Há uma frase muito interessante que diz que a verdade não está com nenhum de nós, que a verdade está entre nós. A verdade neste momento não está com a Rede, não está com o,:PSB, não está com nenhum de nós.
Apelo contra a divergência pública
A ex-senadora afirmou também que deve haver diálogo para não tomar as divergências públicas.
— Diante de qualquer dúvida, nunca esquecer que o olho no olho, que a conversa é muito mais importante do aquilo que a gente lê no jornal.
Em seu discurso, Campos disse que não existe possibilidade de conflito entre os novos aliados:
— Se eles acham que vão me jogar contra Marina ou Marina contra mim, ou se os militantes da Rede vão disputar a cotovelada com o PSB, eles estão completamente errado. Nós não estamos nesse jogo.
Afirmou que a preocupação não é com o nome que encabeçará a chapa.
— Se Marina quisesse um partido para ser candidata, ela tinha. E se o PSB quisesse só ter uma opção, ele também só tinha uma opção. Nosso encontro foi muito além do olhar eleitoral.
O governador de Pernambuco fez coro com Marina, que havia falado sobre a importância da manutenção das conquistas obtidas pelos últimos governos.
— Se não tiver atuação no estratégico, essas conquistas correm risco. A democracia pode andar para trás, a estabilidade corre risco. Proteger o legado é algo estratégico. Precisa ser cuidado.
A união tem gerado saias-justas. Num primeiro momento, integrantes da Rede, principalmente a ala jovem, se manifestaram contra a opção de Marina, questionando a falta do compromisso do governador de Pernambuco com questões ambientais e alianças tradicionais.
Mas a união com Marina afastou Campos dos representantes do agronegócio, que manifestavam simpatia por sua candidatura. Em entrevista coletiva, Campos adotou o discurso de Marina para o setor dizendo que é necessário "mais produção na agricultura com mais cuidado com a nossa natureza" mas defendeu aproximação com o setor que é responsável "por 25% do PIB e dos empregos" do país.
Os problemas entre os dois partidos também passaram pelo constrangimento provocado pela decisão da Rede de recusar o convite para indicar representantes para participar da Executiva do PSB.
Outra diferença que ainda precisará ser administrada é o posicionamento nas eleições estaduais. A Rede quer candidaturas próprias e o PSB defende alianças, com possibilidades de divisão de palanques com Aécio Neves (PSDB).
Em entrevista, Marina e Campos foram questionados se o governo de Pernambuco, que conta com a participação de 14 partidos, segue o modelo pregado.
— Se fosse uma gestão puramente fisiológica, não seria o governador mais bem avaliado do país — defendeu Marina.
— Não podemos achar que uma pessoa por ter filiação partidária não pode ocupar uma função pública. Aí é outro tipo de preconceito — rebateu Campos.
Participaram do encontro cerca de 150 pessoas, indicadas pelos partidos.
NOVOS ALIADOS
O que discutem Rede e PSB
REFORMA DO ESTADO
Adotação de mecanismos de combate à cultura patrimonialista na composição dos governos; ampliação dá transparência da gestão pública; e redução do número de cargos comissionados.
NOVO PACTO FEDERATIVO
Debate sobre a forma peia qual os recursos arrecadados pela União são divididos entre estados e municípios.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Adoção de modelos de agricultura que aumentem a produtividade no campo, mas sem ferir o meio ambiente; políticas de proteção dos biomas e promoção do empreendedorismo; Adoção de uma "modelo integrador" do progresso, com preocupação da conservação do projeto para gerações futuras.
REFORMA POLÍTICA,
Debate sobre o fim da reeleição, formas de financiamento de campanhas, aumento da participação da população nas decisões, por meio de referendos, plebiscitos; e ampliação do alcance dos projetos de iniciativa popular.
EDUCAÇÃO
Políticas educacionais voltadas ao fomento da inovação e ao fortalecimento do ensino técnico.
Fonte: O Globo
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