Lentamente, o acordo entre a ex-senadora I Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, vai voltando ao seu leito natural. O acordo foi originariamente montado para que a candidatura à Presidência da República ficasse em segundo plano, ressaltando o aspecto programático da união.
A "coligação democrática" deixaria a escolha do candidato oficial do grupo político a ser formado para uma etapa posterior, quando o programa já estivesse definido. Dessa maneira, a união dos dois é mais forte do que definindo de antemão quem será o candidato. Por que reduzir o espectro da escolha se existem dois candidatos possíveis para buscar um mesmo objetivo? Entre a primeira conversa, na sexta-feira à noite, e o anúncio oficial, no sábado, houve pressão dos socialistas para que Campos não abrisse mão de sua candidatura, e foi isso que fez com que Marina afirmasse na sua fala que a candidatura posta era a de Campos, e que ela embarcava no seu projeto.
Mas Marina tratou de recolocar a questão em entrevistas, lembrando que ambos sabiam que os dois são possibilidades a serem testadas junto ao eleitor até a tomada de posição oficial.
Um primeiro teste deve ser divulgado ainda neste fim de semana, quando está sendo esperada uma pesquisa do Datafolha. O Ibope irá às ruas só na próxima semana, dando tempo para que o eleitor se acostume com o novo quadro.
Da mesma maneira que Marina deu mostras de desprendimento indo ao encontro de Eduardo Campos, ele também está demonstrando que fez um acordo para ganhar, e não para alimentar seu ego.
Outro ponto importante nessa mudança de atitude é que Marina precisa manter seus seguidores amarrados ao projeto da Rede, e sua candidatura é parte fundamental para estimular os "marineiros" empenhados na campanha. Cortar os tênues fios que ligavam o PSB de Campos a Ronaldo Caiado em Goiás teve o aspecto simbólico de garantir à sua base que nada mudou no projeto original. Embora eles saibam que muita coisa mudou.
Mas é preciso preservar aspectos simbólicos do projeto original para não perdê-lo. A legislação aprovada a toque de caixa no Senado e o parecer do procurador-geral da República que retiram dos novos partidos a capacidade de disputar a eleição municipal de 2016 em condições similares às dos outros — ou seja, com tempo de TV e fundo partidário — são obstáculos que servirão para unir os "marineiros" em tomo do PSB, a barriga de aluguel que viabilizará a formação da Rede. Mesmo aqueles que rejeitam a aproximação com os socialistas, alegando que eles representam a "velha política" que Marina quer superar, terão de se valer da estrutura formal do PSB para gerar a Rede, até que ela possa caminhar pelas próprias pernas.
Se vencerem a eleição, sós ou apoiando o PSDB de Aécio Neves, o novo governo poderá promover verdadeira reforma política que reorganize nossos sistemas partidário e eleitoral.
Fazendo o diabo
A presidente Dilma, que anda em fase de paz e amor, não abre mão de "fazer o diabo" na pré-campanha eleitoral antecipada, aliás, por ela mesma, quando tirou do ex-presidente Lula a garantia de que seria a candidata oficial do PT. Na hora do expediente, reuniu-se com seu mentor e mais conselheiros políticos, como o ex-ministro Franklin Martins e o 40° ministro, o marqueteiro João Santana, para discutir a corrida presidencial. Não deveria ser assim, mas, no Brasil, nada que é impedido por lei deixa de ser feito, pois as sanções pecuniárias são ridículas, e as morais já há muito não fazem mais efeito em nossos políticos.
Afinal, se o governador de Pernambuco pode se dedicar exclusivamente à sua candidatura nos últimos dias, por que não poderia nossa "soberana"?
Fonte: O Globo
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