Marina e Eduardo Campos querem aproveitar dúvida sobre qual deles será o cabeça de chapa para confundir adversários na corrida ao Planalto
Paulo de Tarso Lyra
BRASÍLIA – O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e a ex-senadora Marina Silva (PSB) decidiram usar a seu favor a polêmica gerada nos últimos dias sobre quem será o cabeça de chapa nas eleições presidenciais do ano que vem. Os dois almoçaram ontem juntos em São Paulo, no primeiro encontro após o anúncio da aliança, em Brasília e decidiram esticar ao máximo a definição sobre quem será o candidato a presidente. "Temos a necessidade de começar a mudança política. E vamos começar cometendo os mesmos erros das práticas políticas que estamos condenando? Começar a discussão pela chapa, nomes, arranjo eleitoral para ir para o político de novo? Não, nós temos clareza de que esta é a hora de debater conteúdo, futuro. Em 2014 vamos tomar a decisão sobre a chapa", afirmou Campos.
Marina concordou com as palavras do presidente do PSB e afirmou que a parceria entre ambos inverte a lógica da política tradicional. "Tradicionalmente, faz-se uma aliança eleitoral, ganha-se o governo e depois inventa-se um programa. Nós estamos fazendo uma aliança programática, vamos adensar a aliança, dar substância a conteúdo e aí sim aliança programática poderá se tornar uma aliança fática", disse ela.
A estratégia foi desenhada durante a reunião de duas horas ontem entre Eduardo e Marina. Os dois avaliaram a repercussão da polêmica sobre a cabeça de chapa, que abriu uma discussão entre a militância dos dois partidos, entre os ministros do governo Dilma Rousseff e fomentou debates em redes sociais e nas páginas de jornal. A análise é de que, neste momento, o melhor a se fazer é deixar a dúvida no ar para confundir os adversários.
O governador pernambucano afirmou que a Rede e o PSB têm "paciência de sobra" para acompanhar as provocações. "Se acham que vão ficar nos provocando, que fiquem", disse. "Aqui não tem jogo, tem gente que tem coragem de fazer, gente que veio de uma história política que venceu muitas adversidades. Nós já enfrentamos coisas muito mais complicadas do que teremos que enfrentar até a hora certa em 2014", acrescentou. Marina estará em Recife na semana que vem e os integrantes da Rede e do PSB promoverão um seminário em 29 de outubro para começar a rascunhar o programa de governo conjunto dos dois partidos.
Tabuleiro Um adversário de Eduardo, certa vez, afirmou que ele, a exemplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é um exímio jogador de xadrez. Mas, ao contrário de Lula, que movimenta as peças nos tabuleiro sob os olhos do oponente, Eduardo esconde as peças, tornando imprevisíveis os passos seguintes. É nisso que o presidente do PSB aposta neste instante. Trabalhar em silêncio para evitar uma exposição antecipada da própria candidatura.
Vários fatores reforçam a cautela de Marina e Eduardo. O primeiro deles é evitar a desmobilização da militância. Os socialistas sabem que boa parte dos marineiros ficou insatisfeita com a aliança entre os dois presidenciáveis, pois preferiam que ela ficasse de fora da disputa ao Planalto em 2014 para reverberar o argumento de que ela foi vítima de uma injustiça do Tribunal Superior Eleitoral. Já os socialistas queixaram-se com as declarações dúbias de Marina sobre quem seria o cabeça de chapa e apressaram-se em anunciar que não há dúvidas de que o escolhido será Eduardo Campos.
"Se o candidato não for o Eduardo, o PSB implode. Mas não precisamos definir isso agora", confirmou um integrante da direção partidária.
Na TV A aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva foi destacada na propaganda partidária do PSB que foi ao ar ontem à noite. Eles defenderam fazer uma "nova política, com novas lideranças". Na parte final do vídeo, aparecem trechos dos discursos de Eduardo e Marina, em forma de jogral, proferidos sábado, quando a ex-senadora firmou o acordo político com os socialistas.
Juntos, mas separados
A aliança entre Eduardo Campos e Marina não esconde as arestas que precisam ser aparadas para o sucesso da união
» Militância
Marineiros querem a ex-senadora como candidata ao Planalto. Socialistas defendem que a vaga é do governador de Pernambuco
» Alianças
Marineiros defendem aliança com a sociedade. Já os socialistas negociam palanques para ampliar o tempo de televisão
» Relação com o PT
Marina rompeu com Lula em 2009 e pode criticar com mais ênfase o governo e o PT. Eduardo deixou o governo há um mês. O PSB ajudou a eleger Dilma Rousseff
» Desenvolvimento
Marina é rigorosa no que se refere à sustentabilidade e desenvolvimento econômico dentro de critérios ambientais. Eduardo incrementou a economia pernambucana, apesar de algumas críticas ambientais, sobretudo no Porto de Suape
» Empresariado
Marina tem ao seu lado os empresários mais voltados à sustentabilidade e os integrantes da Rede são contrários ao financiamento eleitoral privado, preferindo contribuições de pessoas físicas. Eduardo está desde o início do ano se reunindo com o setor produtivo nacional, inclusive empresários do ramo de infraestrutura
Fonte: Estado de Minas
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