Aberto, afinal, o startinggate da corrida presidencial, a 12 meses da eleição, constatou-se que a disputa relevante ficou restrita a três candidaturas. Quanto ao cavalo governista, a única informação nova, revelada pelo marqueteiro do Planalto, é que a presidente deverá montá-lo com sobrançaria olímpica. Caso seu desempenho não corresponda às expectativas, o ex-presidente Lula estará pronto a substituí-la. Tampouco houve surpresa quanto ao cavalo tucano, montado por Aécio Neves, sob o indefectível mau-olhado de José Serra. A grande novidade foi o terceiro cavalo, com que Eduardo Campos e Marina Silva, unindo forças, decidiram disputar a corrida presidencial.
Porta-vozes do governo apressaram-se a arguir que a filiação de Marina ao PSB, para "adensar o projeto da candidatura já posta" de Campos, favorece a reeleição. Em vez de ter de lidar com três candidatos, a presidente terá dê enfrentar só dois. Mas os desdobramentos da filiação podem ser bem mais complexos. Frustrando esperanças que vinham sendo acalentadas pelo ex-presidente Lula, o lançamento da candidatura do PSB tornou-se irreversível. E Marina parece ter abandonado de vez a preocupação de evitar uma postura de oposição aberta ao governo. Ao anunciar sua decisão como um movimento de resistência ao "chavismo do governo" terá causado grande impacto no Planalto. Não é crítica que o governo esteja habituado a ouvir da esquerda.
A verdade é que, embora ainda seja cedo para vislumbrar com clareza em que vai redundar a aliança de Marina e Campos na campanha eleitoral, o Planalto já deu sinais de apreensão com a perspectiva de ter de lidar com uma segunda frente, liderada por dois aguerridos ex-ministros de Lula e respaldada por considerável apoio popular. O que se noticia é qüe o primeiro movimento defensivo da candidatura governista será reforçar a imagem de realizadora da presidente. Ou, como ironizou um ministro, confrontar o perfil "sonhático" de Marina com "realizático" de Dilma.
Essa linha de defesa padece de duas limitações. A primeira é que, se o candidato a presidente do PSB for mesmo Eduardo Campos, bater no perfil "sonhático" de Marina não causará grandes danos. O governador de Pernambuco não terá dificuldade em contrapor suas realizações como administrador às da presidente Dilma. E, diga-se de passagem, o mesmo pode ser dito do candidato tucano.
Isso leva à segunda limitação dessa linha de defesa. Que realizações como administradora poderá a presidente Dilma ostentar, de fato, na campanha que se inicia?
Dessa perspectiva, o que se vê é um quadro desolador. A taxa média anual de crescimento do PIB nos três primeiros anos do mandato não deverá passar de 2%. Apesar de todos os PACs, os programas de investimento público continuam emperrados. O recurso tardio a concessões na infraestrutura de transportes vem se mostrando bem mais problemático do que o governo esperava. E a lamentável sequência de decisões equivocadas feitas no setor de petróleo — desde o governo Lula e sempre sob a firme tutela de Dilma Rousseff — impôs enormes dificuldades à Petrobras e estreitou em muito as possibilidades do pré-sal.
O investimento privado continua entravado pela desconfiança do empresariado. E não é difícil perceber por quê. Na condução da política econômica, o Planalto, atarantado, vem emitindo sinais cada vez mais contraditórios. Basta ter em conta o noticiário recente. No início da semana, o governo, engajado em desesperado esforço para evitar que o Brasil seja rebaixado pelas agências de classificação de risco, tentou dar mostras de que está desmontando às pressas o faustoso orçamento fiscal paralelo que há vários anos vem mantendo no BNDES. Mas, logo no dia seguinte, anunciou um deplorável trem da alegria na renegociação de dívidas dos governos subnacionais que, por mera coincidência, deverá propiciar substancial folga fiscal à prefeitura de São Paulo no ano eleitoral de 2014.
Está cada vez mais difícil encontrar realizações que a presidente Dilma possa de fato ostentar.
Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio
Fonte: O Globo
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