A escolha de São Paulo para cenário do primeiro encontro entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva está longe de ser obra do acaso ou da "praticidade" A opção foi feita de caso pensado e extremamente avaliado. E tem um motivo crucial: eles já perceberam que todas as tentativas fracassadas de quebrar a polarização PT-PSDB tiveram dois pontos em comum: primeiro, nenhum dos candidatos tinha o controle do partido. Em segundo lugar, não tinham inserção em São Paulo. Desfilaram nessas ondas de quebra da polaridade Anthony Garotinho, Ciro Gomes, Heloisa Helena e Cristovam Buarque. Nenhum deles tinha construído algo sólido em São Paulo, berço do PT e do PSDB, e cada onda que tentaram formar viraram marolinhas.
Juntos, Eduardo e Marina buscam, nessa primeira etapa, escapar dessa sina. No quesito controle partidário, ambos não podem se queixar. Marina decidiu praticamente sozinha levar a Rede para reforçar Eduardo Campos. E, no papel de presidente do PSB, o governador de Pernambuco não pede, manda. Falta, entretanto, o outro pilar capaz de dar sustentação a um projeto. Construir algo de peso em solo paulista, uma vez que, pelos cálculos deles, Aécio Neves, do PSDB, sairá bem de Minas Gerais e Dilma Rousseff já está no segundo turno.
Esse ponto, entretanto, ainda é uma incógnita. A candidatura própria de Walter Feldman ao goveriíò de São Paulo é vista com certo receio, porque seria a "5ª via", conforme definido pelos próprios integrantes do PSB e da Rede. O cenário de São Paulo apresenta quatro pré-candidatòs hoje: o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, concorrerá à reeleição. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, já foi apresentado por Lula como o nome do PT. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, é o nome do PMDB e aparece bem posicionado.
O ex-prefeito Gilberto Kassab é o nome mais forte do PSD. Ou seja, só tem "feras" nessa disputa. À exceção de Skaf, que vem do meio empresarial e é tido como alguém meio avesso aos jogos da política, os outros três são "do ramo", expressão que os políticos usam para definir aqueles que são extremamente habilidosos e conhecedores do terreno onde pisam.
Nesse cenário, avaliam alguns, uma candidatura de Feldman seria a 5ª via, que chegaria numa faixa estreita de votos. Portanto, enquanto ainda mantêm a hipótese de nome próprio reservada, os integrantes da Rede e do PSB observam o quarteto de pré-candidatos. Está praticamente definido que, com o PT, eles não seguirão. Tampouco pretendem apoiar Skaf. Nesse caso, restam duas opções: Kassab e o governador Geraldo Alckmin.
A notícia veiculada na internet de que teria havido um encontro de Eduardo e Marina com Alckmin ontem, no fim da manhã — que não ocorreu —deixou o mundo político desconfiado. Realmente, eles não se encontraram, mas essa reunião não está longe de acontecer. Os tucanos sempre se referem ao deputado Márcio França, do PSB, como futuro candidato a vice na chapa de Geraldo Alckmin. Se isso ocorrer, Alckmin terá dois candidatos a presidente no palanque. Ocorre que Feldman já foi secretário de Kassab e, como em política nada é impossível, não será tão esquisito quanto parece se a dupla Eduardo-Marina ou Marina-Eduardo estiver com o ex-prefeito, uma vez que a dupla Lula-Dilma ou Dilma-Lula estará dedicada à campanha de Alexandre Padilha.
Enquanto isso, no Palácio dos Bandeirantes...
A construção entre Eduardo e Marina Silva e esse alicerce que eles buscam em São Paulo vai acelerar a formatação do palanque de Geraldo Alckmin. A cada dia, encurta-se o prazo para que o governador possa fazer um convite oficial ao PSB para compor a chapa. Está no ar a sensação de que, se esse convite não vier logo, a Rede de Marina pode levar o PSB a outro projeto, que não a reeleição de Alckmin. Afinal, é preciso ter em mente que, tanto Eduardo quanto Marina buscam um pé em São Paulo. E, em política, assim como no futebol, vale a máxima: quem se desloca, recebe. Quem pede, tem preferência. Os atores de São Paulo vão começar a se deslocar agora, Resta saber quem terá a preferência.
Fonte: Correio Braziliense
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