quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Após inflação mais alta que o esperado, BC eleva taxa de juros para 10,5%

João Villaverde, Célia Froufe

BRASÍLIA - Em resposta direta à alta da inflação no ano passado, o Banco Central (BC) surpreendeu boa parte do mercado ao decidir ontem elevar a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,50 ponto porcentual - e não em 0,25 ponto, como vinha sinalizando nos últimos meses.

A partir de hoje, a Selic está cotada em 10,5% ao ano. A decisão do BC, tomada de forma unânime pelos diretores e o presidente Alexandre Tombini, deixou a porta aberta para um novo aumento neste início do ano.

Pressionado pela alta dos preços, o BC deixou em segundo plano o desempenho da economia, que encolheu 0,5% no terceiro trimestre do ano passado. Em dezembro, o IPCA marcou alta de 0,92%, maior índice para meses de dezembro de toda a série histórica do IBGE. O índice ficou bem acima do que esperavam analistas de mercado, consultorias e o próprio governo. No ano, o IPCA fechou em 5,91%, superando os 5,84% de 2012, resultado inverso ao esperado pelo governo.

A piora nos índices de preços será um dos principais temas da eleição de outubro, quando a presidente Dilma Rousseff tentará um novo mandato. O cenário repete o que ocorreu em 2010 e deve levar o BC a interromper o ciclo de aperto da Selic antes do período mais acirrado da disputa eleitoral.

Em seu comunicado, o Comitê de Política Monetária (Co-pom) do BC destacou que decidiu por uma elevação de 0,50 ponto porcentual "neste momento", expressão que deve guiar as apostas para a próxima reunião do comitê.

Expectativas. O mercado estava dividido em relação ao resultado deste Copom. Até a semana passada, a maioria dos analistas esperava que a instituição reduzisse o ritmo de alta dos juros e anunciasse um aumento para 10,25% ao ano. O BC sinalizou essa possibilidade no fim do ano passado.

Ontem, os juros negociados no mercado por investidores e bancos apontavam o aumento de 0,50 ponto porcentual como mais provável, mas por uma pequena margem. Entre os analistas de consultorias e instituições financeiras, por outro lado, a maioria esperava pelos 10,25% ao ano.

Segundo o economista da LCA Consultores, Antônio Madeira, a surpresa com o índice de inflação de 2013, acima do registrado no ano anterior, foi determinante para a decisão do Copom. "Esse aumento de 0,5 ponto porcentual provavelmente é resultado do IPCA, conhecido na semana passada".

Na avaliação do economista sênior do Besi Brasil, Flavio Serrano, o BC sinalizou o fim do ciclo de alta de juros. Ao subir 0,50 ponto, o BC ajudará a controlar as expectativas e o próprio comportamento da inflação. Mas a introdução do termo "neste momento" no comunicado no mínimo reduz a chance de a Selic subir mais 50 pontos no próximo encontro."

Críticas. Lideranças "da oposição" consideraram o aumento da Selic para 10,5% ao ano como o único remédio que tem sido usado pelo governo Dilma Rousseff para tentar conter a pressão inflacionária, mas ele não tem surtido efeito.

"O governo tenta desesperadamente conter o processo inflacionário adotando a surrada estratégia de aumentar as taxas de juros. É uma tentativa de compensar a falta de reformas estruturais, que ficaram no papel", afirmou o vice-líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias.

(Colaboraram Ricardo Brito, Márcio Rodrigues, Carla Araújo e Eduardo Cucolo)

Fonte: O Estado de S. Paulo

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