Sergio Lamucci
WASHINGTON - O Brasil poderia ter uma situação inflacionária muito melhor, sendo preocupante a maneira como a questão está sendo administrada, disse ontem, em Washington, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Para o pré-candidato à Presidência, a administração do combate à inflação tem sido feita "da mão para boca", com o governo segurando os preços administrados, para que eles fiquem na casa de 1% a 1,5% ao ano, enquanto "os preços de alimentos estão na casa de 10%, os custos pessoais na casa de 9% e o aluguel, em alguns lugares, passando dos 15%". Questionado sobre o impasse político envolvendo um possível veto do PSB nacional à aliança em São Paulo com o PSDB, Campos foi evasivo. Disse que esse assunto não está em discussão no momento.
"É claro que a inflação para o assalariado brasileiro e para os brasileiros mais pobres está acima da inflação oficial, porque a cesta de compras das classes C, D e E é bem diferente desse indicador", afirmou Campos. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência para o regime de metas de inflação, fechou 2013 em 5,91%. O governador observou que, "mesmo com a inflação num patamar abaixo do que encontramos em 2003, quando Lula chegou ao governo, nós poderíamos estar com uma inflação muito melhor". Ele lembrou, porém, que a inflação atual é menos da metade do que era em 2002, quando ficou em 12,5%.
Ao comentar a situação da economia brasileira, que cresce pouco mais de 2%, tem inflação próxima de 6% e um déficit em conta corrente superior a 3,5% do PIB, Campos afirmou que vê esse desempenho com preocupação. "A preocupação não é apenas pelo fato de o crescimento ser a metade do que foi no governo do presidente Lula, mas porque a qualidade de vida também está sendo afetada". Campos observou, contudo, que o Brasil ainda tem "fundamentos muito melhores do que outros países que ficam muitas vezes posando que está tudo bem".
Ao responder o que faria diferente, Campos afirmou que é necessário "coordenar efetivamente o tripé macroeconômico" (o regime de metas de inflação, o câmbio flutuante e metas de superávit primário), ressaltando, porém, que ele, por si só, não responde a todos os desafios brasileiros. "Nós precisamos melhorar a produtividade, animar os investidores externos e internos a investir mais e avançar no comércio exterior". Campos disse ainda que se preocupa que algumas medidas sejam postergadas por 2014 ser um ano eleitoral. "Nós não podemos perder mais tempo no Brasil retardando as medidas que têm que ser tomadas para sinalizar o compromisso do Brasil com a estabilidade fiscal e monetária".
Campos foi cuidadoso ao falar do cenário político. Segundo ele, o PSB e a Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, estão empenhados numa discussão programática, não havendo, neste momento, debate sobre que nomes devem ser apoiados nos Estados. Um documento com propostas deve ser finalizado até o fim deste mês. "Depois de lançadas as diretrizes, elas serão encaminhadas para cada uma das regionais do PSB, da Rede e do PPS, para que elas possam inspirar o debate sobre a composição das alianças em cada um dos Estados", disse.
"Mas em todos momentos nós deixamos claro que somos partidos que temos identidades, temos diferenças. Se não conseguirmos em todos os lugares estar na mesma posição, teremos posições que respeitem o projeto nacional. Não há nenhum estresse." Campos disse que há notícias de que há cerca de 20 Estados em que as "coisas estão indo bem", mas reiterou que nem ele nem Marina, que estiveram juntos na terça-feira, estão se dedicando à questão dos cenários estaduais.
Campos esteve em Washington para receber o prêmio GobernArte, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em duas categorias. Pela manhã, ele se encontrou com a secretária-assistente para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Roberta Jacobson.
Fonte: Valor Econômico
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