Uma pequena mas progressiva retomada da popularidade de Dilma Rousseff como presidente e como candidata, propiciada por intenso uso da mídia eletrônica, permitiu-lhe concluir 2013 e começar 2014 reafirmando o favoritismo na disputa pelo Palácio do Planalto. Com a redução ou arquiva-mento tático das resistências petistas. E com maior subordinação dela a Lula no relacionamento Executivo/Congresso e na montagem das alianças para a disputa, bem como no rearranjo do Ministério, que está sendo definido partidariamente e não pelos critérios “técnicos” dilmistas anteriormente anunciados.
Retomada e desdobramentos que não puderam evitar a dissidência do PSB (fortalecida pela adesão da Rede de Marina Silva à candidatura de Eduardo Campos), mas que foram favorecidos por dois fatores aleatórios: o esvaziamento e a descontinuidade das manifestações de rua, de junho (atropeladas pelos blacks blocks) e a demora, até o final do ano, da definição unitária do PSDB em torno da candidatura de Aécio Neves, em prejuízo do exercício de seu papel, nas articulações partidárias e no debate público, de principal lide-rança e alternativa oposicionista.
O favoritismo da presidente/candidata – cuja recuperação parcial não é avaliada (nem pelo PT) como suficiente para garantir-lhe uma vitória em 1º turno – resistirá aos fortes e crescentes sinais negativos do comportamento da economia ao longo deste ano?
Esses sinais antecipam grande dificuldade, ou impossibilidade, do governo para combinar a persistência do populismo tarifário e do custoso assistencialismo com o imperativo, também eleitoral, do controle da inflação (com os preços livres já além dos 7%, e com taxa completa acima do teto da meta, de 6,5%, em vários estados, no final de 2013). Isso no contexto de mais um pibinho em 2014, projetado para menos de 2% pelo boletim Focus, do Banco Central, divulgado na última sexta-feira.
Numa mistura de ingredientes negativos, que, confirmada, terá efeitos restritivos inevitáveis para o conjunto da população (sobretudo para a de menor renda). Cenário do qual uma das consequências mais temidas pelo governo (e neste caso grave para o país) é um rebaixamento da nota de crédito externo do Brasil. Assim resumido na abertura da coluna da jornalista Míriam Leitão, no Globo de domingo último: “O risco de queda. Um espectro ronda o Planalto. O temor é de que o Brasil tenha sua nota nas agências de ra-ting rebaixada em pleno ano eleitoral. Os números fiscais pioraram e não há maquiagem que encubra isso dos profissionais do ramo. Para evitar esse dissabor, seja em que ano for, o governo teria que olhar sinceramente para o problema fiscal, sem mágica, sem descontos, sem enganos”.
Imponderáveis políticos – A avaliação social da presidente Dilma (assim como de outros governantes e candidatos aos pleitos nacional e estaduais) poderá ser posta em xeque – antes mesmo que o início regular da campanha eleitoral enseje enfim a presença na mídia eletrônica dos oposicionistas Aécio Neves e Eduardo Campos – por uma retomada de grandes manifestações de ruas. Estimuladas pelo agravamento dos problemas de economia e pelo mix de ineficiência e distorções éticas do gigantismo estatal.
Eis alguns temas com potencial mobilizador: o contraste entre os vultosos gastos com estádios para a Copa do Mundo e o sacrifício da maior parte dos projetos do prometido legado social (de melhoria dos serviços públicos); o aumento da criminalidade e as precaríssimas condições do sistema penitenciário, evidenciados dramaticamente na capital do Maranhão; a etapa final do processo do mensalão e o julgamento de outras denúncias de corrupção (como a do chamado mensalão mineiro e a das licitações do metrô e da CPTM em governos paulistas do PSDB); a possível ocorrência de apagões, por causa das carências de investimentos na expansão e na modernização tecnológica no sistema elétrico.
Jarbas de Holanda, jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário