Flávia Barbosa
WASHINGTON — O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, negou nesta quarta-feira que seu partido, o PSB, tenha decidido não apoiar a reeleição do tucano Geraldo Alckmin em São Paulo, para permitir que a ex-senadora Marina Silva, da Rede, anuncie sua candidatura à vice-presidente em sua chapa em fevereiro. Segundo Campos, a definição das coligações estaduais só será feita após o lançamento das diretrizes comuns para um programa de governo, ainda em elaboração e que só deverão ficar prontas no fim de janeiro.
Campos afirmou que ele e Marina fizeram “uma imersão” no programa durante reunião na última terça-feira, mas não trocaram “uma palavra” sobre as sucessões estaduais. O governador considera natural que os estados já estejam debatendo os arranjos eleitorais de outubro, mas acredita que o seu papel e o de Marina neste momento sejam discutir a sucessão e as diretrizes nacionais.
— Nós não vamos interditar debate estadual algum — disse o governador. — Mas não discutimos este assunto (apoios regionais) em nenhum estado ainda. Estaríamos inclusive sendo incoerentes se falamos em uma coligação programática e a gente parte para decidir as coligações antes de ter as diretrizes do programa, estaríamos desfazendo o que tínhamos dito. Então, não procede.
Isso vale, inclusive, para a definição da chapa presidencial, ou seja, se o candidato a presidente seria o governador ou Marina.
— Vai acontecer na hora que for a melhor estratégia, depois das diretrizes definidas. Enquanto elas estão sendo definidas, estamos amadurecendo os próximos passos — disse Campos, que esteve na capital americana para receber um prêmio de governança do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), pelos ações de desburocratização e segurança implementadas em sua gestão.
Para o governador, o ideal é que PSB e Rede, com base no programa comum, entrem juntos na maior parte das disputas de outubro. Ele calcula que, hoje, os dois partidos dividiriam o palanque em 20 dos 27 estados. Ele enfatizou que as siglas têm identidades próprias e diferenças, mas tentarão, onde houver divergências locais, manter o respeito às diretrizes da aliança nacional:
— Não estamos, eu e Marina, nos dedicando a discutir o quadro de São Paulo, Rio, Pernambuco,
Amazonas. Estamos fechando as diretrizes e depois vamos tentar guardar a coerência.
Campos disse que Marina não expressou em conversa com ele oposição ao apoio socialista a Alckmin. E lembrou que a ex-senadora já disse que a intenção da coligação entre PSB e Rede é “governar com os melhores do PT e os melhores do PSDB”.
— Estamos discutindo um projeto para o país. Marina diz muito bem, como eu afirmo, (sobre) a compreensão do ciclo histórico que nos trouxe até aqui, com a contribuição de todas essas forças, uma outra coalizão política que nos permita representar um avanço na prática política, numa política que possa garantir o conteúdo que está sendo reivindicado nas ruas — disse o governador.
Eduardo Campos afirmou ainda que vê com preocupação a deterioração dos fundamentos brasileiros, do ritmo de crescimento e da qualidade de vida da população. Porém, ressaltou, acha que há países em condições econômicas piores do que as brasileiras.
O governador se disse contrário à política de segurar a inflação por meio do represamento de reajustes de preços administrados, enquanto os alimentos estão aumentando à taxa anual de 10%, os serviços pessoais, de 9%, e os aluguéis, em algumas cidades, na casa de 15%.
Para ele, é preciso implementar políticas que coordenem melhor o tripé da economia brasileira — rigor fiscal, câmbio flutuante e meta de inflação — e elevem a produtividade e a capacidade de investimento.
Campos comentou também a possibilidade de o ano eleitoral contaminar o gerenciamento da política econômica em 2014, como alertou o Banco Mundial, em relação a um conjunto de emergentes que incluiu o Brasil, em relatório divulgado nesta quarta-feira. Para fechar janelas deste tipo, defendeu o governador, o país precisa de mandato de 5 anos para o presidente, sem reeleição:
— Claro que me preocupo (com o alerta do Banco Mundial), como brasileiro torço e vou contribuir para que isso não aconteça (...) Acho sinceramente que no Brasil não se pode retardar mais as decisões que precisam ser tomadas para sinalizar o compromisso fiscal e monetário, precisamos deixar isso muito claro inclusive como consenso das forças políticas que podem disputar o governo.
Fonte: O Globo.
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