- O Estado de S. Paulo
A presidente Dilma Rousseff (PT) sobreviveu à primeira onda oposicionista para tirá-la do cargo ao qual foi reconduzida pelas urnas. A conjugação do seu sobrenome com a palavra impeachment entrou em baixa nas redes sociais e, principalmente, nas buscas via Google. O binômio Bolsonaro-estupro, por exemplo, provocou muito mais interesse dos internautas na semana passada.
Talvez o Natal seja menos turbulento para Dilma do que foram as semanas subsequentes à sua reeleição, mas o ano novo promete um céu escuro como fumaça de óleo diesel. O escândalo da Petrobrás é um poço de petróleo em chamas, como aqueles que se via ardendo na primeira guerra dos EUA contra o Iraque. Sem meios para estancar os vazamentos, continuará queimando por meses a fio. É impossível saber quantos vão se chamuscar. Não serão poucos.
A semana passada confirmou o novo comportamento dos deputados quando têm que votar a cassação de um dos seus pares. Agora que o voto é nominal e às claras, raros têm coragem de absolver quem foi pego com batom no colarinho. André Vargas, o cassado, estava em fim de mandato e havia se desfiliado do PT. Foram 359 votos pela cassação, um contra e seis abstenções. A lavada era esperada por seu isolamento e pelo histórico.
Primeiro a ser julgado em votação aberta na Câmara, Natan Donadon foi cassado em fevereiro com o voto de 467 dos 513 deputados. O placar foi mais dilatado porque ele não estava apenas isolado, estava preso - embaraçando a Câmara havia oito meses. O vexame era maior porque em agosto de 2013, quando a votação ainda era secreta, só 233 deputados haviam votado pela cassação de Donadon - 24 a menos do necessário para cassá-lo.
Instituído o voto aberto para casos de pedido de cassação, o comportamento corporativista dos deputados perdeu força. Entre a preservação de sua imagem pública e a camaradagem, prevaleceu o instinto de sobrevivência. No que depender do escândalo da Petrobrás, esse instinto será novamente colocado à prova, mas de maneira e intensidade inéditas, na próxima legislatura.
É possível e até esperado que não apenas meia dúzia, mas dezenas de parlamentares sejam implicados e, eventualmente, denunciados por crimes ligados à Petrobrás. Essa é a primeira diferença em relação aos casos de Donadon e Vargas: os réus não estarão isolados, serão quase uma multidão. Também relevante, não devem ser de um partido só, mas de vários. Além do PP, os vazamentos seletivos envolvem PT e PMDB - as duas maiores bancadas.
Isso significa que as estruturas de poder no Congresso estarão em risco em 2015. Não se deve esperar, portanto, o mesmo desprendimento que os deputados demonstraram nos casos de Vargas e de Donadon quando eventualmente vierem a apreciar pedidos de cassação em massa na próxima legislatura. Basta lembrar que a primeira CPI que tratou do caso Petrobrás deu em nada.
As empreiteiras denunciadas até agora no escândalo ajudaram a financiar mais de 200 deputados que tomarão posse no próximo ano. São parlamentares dos partidos mais importantes, tanto governistas quanto da oposição. Claro que isso não significa que todos os que receberam essas contribuições estão comprometidos. Mas ajuda a entender por que a CPI não indiciou ninguém.
Com ou sem cassações em 2015, o poço flamejante da Petrobrás continuará atrapalhando Dilma no Congresso. Ela terminará 2014 com uma taxa de apoio de apenas 67% entre os deputados - segundo o Basômetro, do Estadão Dados. Lula saiu com 88% de apoio.
Mesmo quando comparada a si própria, Dilma enfrenta uma Câmara muito mais rebelde agora do que nos anos anteriores. Ela terminou 2011 com 82% de apoio e fechou o tumultuado ano de 2013 com 78% de governismo. Vai precisar melhorar muito a relação com os parlamentares para voltar a esse patamar - e afastar, assim, a conjugação do seu nome com a palavra impeachment.
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