- Folha de S. Paulo
As descobertas da Operação Lava Jato tendem a reforçar o coro dos que defendem o fim das contribuições de empresas para campanhas políticas. A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal já se manifestou contra as doações, e muita gente acredita que a proibição tornaria o sistema político brasileiro mais decente.
Será mesmo? As investigações mostram que, na hora de distribuir propina, nunca faltou criatividade às empresas que participaram do esquema de corrupção na Petrobras. O dinheiro viajou em aviões comerciais, jatinhos particulares e carros-fortes, dentro de malas, caixas e envelopes. Algumas remessas foram enviadas em maços de dinheiro afixados aos corpos dos entregadores, escondidos embaixo de suas roupas.
Uma das empreiteiras sob investigação diz que suas doações eram parte da propina. Mas proibir as empresas de contribuir com os partidos políticos em nada ajudaria a interromper o fluxo clandestino de recursos. O mais provável é que a restrição faria o problema aumentar, ao incentivar os empresários a continuar fazendo por baixo dos panos as contribuições que hoje podem fazer com recibo, à luz do dia.
A Operação Lava Jato não vai acabar com a corrupção no Brasil. Empresas como as seis empreiteiras denunciadas pelo Ministério Público à Justiça na semana passada sempre farão o que estiver a seu alcance para buscar influência política e conquistar aliados para seus interesses. Sempre haverá gente disposta a negociar do outro lado do balcão.
O que pode ser feito é aperfeiçoar os mecanismos de controle existentes e criar outros, para inibir a corrupção e os abusos do poder econômico, e aumentar a transparência nos negócios do setor público com essas empresas. Ao permitir as doações e obrigar os partidos a divulgá-las, o sistema atual abre uma fresta que ajuda a conhecer melhor a teia de interesses que une as empresas aos políticos que elas financiam.
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