segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Delator diz que trocou ‘crédito’ de propina com tesoureiro do PT

• Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobrás, diz que procurou João Vaccari para que ele recebesse valores da Schahin; em troca ele ficaria com propina que petista tinha a receber de outra empresa

Ricardo Brandt, Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

CURITIBA - O ex-gerente executivo de Engenharia da Petrobrás Pedro Barusco Filho disse em delação premiada à força-tarefa da Operação Lava Jato que fez uma “troca de propinas” com o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto.

Barusco afirmou que possuía um “crédito” da empreiteira Schahin Engenharia, gigante que atua também nas áreas de petróleo e gás, mas estava encontrando dificuldades em receber o dinheiro, segundo ele, relativo ao empreendimento de reforma e ampliação do Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes), no Rio de Janeiro, complexo de laboratórios na Ilha do Fundão.

O ex-gerente disse que procurou Vaccari porque, conforme diz, o petista “tem uma boa relação com a Schahin”. A diretoria de Serviços da Petrobrás, unidade estratégica da estatal, era cota do PT. Por ela passam todos os procedimentos de licitações e contratação da estatal.

Vaccari, segundo afirmou Barusco, também era credor de uma propina de uma outra empresa, que atua no ramo de óleo e gás , de módulos para o Pré- Sal. e que participou da montagem de Angra I e Angra II. O delator não citou valores.

Barusco e o tesoureiro do partido teriam feito, então, uma permuta. Segundo o ex-gerente, Vaccari também era credor de uma outra empresa. No cruzamento de propinas, o “crédito” do petista ficou para Barusco e Vaccari “herdou” a propina da Schahin.

A delação de Barusco foi homologada pela Justiça Federal no Paraná há uma semana. Em uma cláusula do contrato que firmou com a força tarefa do Ministério Público Federal, o ex-gerente comprometeu-se a devolver ao Tesouro US$ 97 milhões que mantêm no exterior e mais R$ 6 milhões no Brasil. Ele confessou que essa fortuna teve origem em atos “ilícitos”.

O grau de colaboração do ex-gerente impressiona os investigadores. Ele demonstrou grande senso de organização e disciplina ao fazer uma metódica contabilidade dos repasses de propinas, apontando todos os negócios onde correu dinheiro por fora. Tudo registrava em um arquivo pessoal.

Barusco passou números de contas bancárias e nomes de beneficiários de comissões. Afirmou que ele e Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal petrolífera, dividiram propinas em “mais de 70 contratos” da Petrobrás entre 2005 e 201o.

Ele declarou que fornecedores e empreiteiros não desembolsavam recursos por “exigência”, mas porque o pagamento de propinas na Petrobrás era “algo endêmico, institucionalizado”.

Antes de atuar na gerência, subordinado a Duque, ele ocupou os cargos de gerente de tecnologia na Diretoria de Exploração e Produção e de diretor de Operações da empresa Sete Brasil, que tem na Petrobrás um de seus investidores.

Pedro Barusco afirmou que “na divisão de propinas” Duque ficava “com a maior parte”, na margem de 60% para o ex-diretor de Serviços e de 40% para ele.

Entregou uma planilha de contratos onde teria corrido suborno e os valores que o esquema girou. Os contratos são de praticamente todas as áreas estratégicas da Petrobrás. Ele citou Gás e Energia, Exploração e Produção e Serviços. Revelou outros operadores da trama de corrupção na Petrobrás. Além do doleiro Alberto Youssef e do lobista do PMDB, Fernando Soares, o Fernando Baiano, Barusco apontou outros nomes.

Falou sobre o suposto pagamento de propinas envolvendo a Schahin no âmbito do Cenps/RJ e a troca que teria realizado com o tesoureiro do PT.

A Schahin não está entre as empreiteiras acusadas no primeiro lote de denúncias que o Ministério Público Federal apresentou à Justiça Federal na semana passada.

Mas a Schahin já havia sido citada em interceptações telefônicas da Polícia Federal. A máquina de grampos da Operação Lava Jato interceptou telefonemas do doleiro Youssef em que ele e um empresário que fornece materiais para a Petrobrás conversam sobre quem “pagou em dia” e “quem estava atrasado” no repasse de dinheiro.

Com a palavra, a defesa
João Vaccari Neto
A Secretaria Nacional de Finanças do PT informou em nota que João Vaccari Neto “desconhece a suposta operação citada em delação premiada pelo sr. (Pedro) Barusco”. O partido reafirmou que “todas as doações recebidas pelo PT são feitas na forma da lei e declaradas aos órgãos competentes”. O partido tem rechaçado categoricamente todas as suspeitas lançadas sobre a origem de valores em seu caixa, desde que a Operação Lava Jato foi desencadeada.

Schahin Engenharia
A Schahin Engenharia, citada na delação de Pedro Barusco, refutou veementemente o que classificou de “fantasiosa afirmação”. Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa destacou que “não tem qualquer vínculo com a Operação Lava Jato”.

Renato Duque
O ex-diretor da Petrobrás Renato Duque nega atos ilícitos e recebimento de propinas.

Petrobrás
A Petrobrás não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre quantos contratos mantém com a Schahin e quais os valores globais de pagamentos realizados. Também não se manifestou sobre o critério adotado para contratação do consórcio do qual fez parte a Schahin para as obras do Cenpes e se o ex-gerente Pedro Barusco teve alguma participação efetiva nesse empreendimento.

Pedro Barusco
A criminalista Beatriz Catta Preta, constituída por Pedro Barusco, não se manifestou sobre os termos da delação do ex-gerente da Petrobrás.

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