- Zero Hora (RS)
A planilha de Alberto Youssef deixou o juiz federal Sergio Moro "perplexo", na definição dele próprio. Isso em decorrência dos indícios de que os crimes transcenderam a Petrobras e outras estatais. O magistrado está convencido de que o doleiro pode ter criado esquema semelhante ao da petrolífera – distribuição de propinas e reforço das finanças de partidos políticos.
"Embora a investigação deva ser aprofundada quanto a este fato, é perturbadora a apreensão dessa tabela, sugerindo que o esquema criminoso de fraude à licitação, sobrepreço e propina vai muito além da Petrobras. Afinal, a única especialidade conhecida de Alberto Youssef é lavagem de dinheiro", alertou Moro, em despacho do dia 4.
O juiz se baseia na interpretação da Polícia Federal (PF) ao apreender a planilha. O policial encarregado de analisar o material é categórico.
"É claro o envolvimento de Youssef e seu grupo com grandes empreiteiras, e por meio da planilha apreendida, pode-se deduzir que Youssef tinha interesse especial nos contratos, onde de alguma forma atuava na intermediação", acrescentou Moro.
Ouvidos, alguns diretores de empresas confirmaram ter repassado quantias entre 3% e 15% dos contratos para Youssef, mas não como propina e sim como "comissão".
"Era dito no setor que ele tinha tráfego bom junto às construtoras", justificou Márcio Bonilho, diretor da Sanko-Sider, em depoimento.
E não só para empreendimentos da Petrobras. Conforme Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal que virou delator na Lava-Jato, a cartelização funcionava em todas as grandes obras do país.
"Deve ter ocorrido em Angra 3, nas grandes hidrelétricas no norte do país... em rodovias, ferrovias, aeroportos, portos, saneamento básico", declarou Costa à Justiça Federal em 22 de outubro.
Youssef, também à Justiça, admitiu que 1% de cada contrato se destinava ao PP e, em alguns casos, 2% a outros partidos. Do total da propina, ele cobrava 5% como comissão para "lavar" o dinheiro.
Quase 60% da lista tem obras da Petrobras
Na planilha do doleiro, Petrobras e suas subsidiárias aparecem como cliente final em cerca de 400 projetos. É 59% do total. As demais são obras da infraestrutura brasileira, não relacionadas a petróleo. Mostra que Youssef era multitentacular.
A planilha também ressalta obras no Exterior. É o caso da instalação de uma usina de etanol na Colômbia, em 2010. A unidade recebeu o aval do Banco do Brasil, com empréstimo de US$ 223 milhões para um grupo israelense, com o compromisso de a empresa comprar tecnologia de indústria brasileira. Na tabela do doleiro, a OAS-Exportação aparece como cliente dele no projeto. No quadro com valores há o registro de R$ 4,5 milhões, supostamente, quantia que Youssef pensava ganhar no negócio.
Os percentuais médios de propina admitidos pelos delatores, em alguns casos, coincidem com o valor mencionado na planilha de Youssef. O suborno chegou a ser pago? Isso os policiais ainda querem descobrir.
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