Marcelo de Moraes – O Estado de S. Paulo
A declaração de guerra feita pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao Palácio do Planalto torna imprevisível o cenário político do País e aponta para a dificuldade cada vez maior de aprovar projetos que ajudem a fortalecer a economia nacional. Acusado por Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato, de pedir propina de US$ 5 milhões, Cunha teve reação furiosa que fechou os canais para qualquer tipo de relacionamento entre o hoje principal protagonista do Poder Legislativo com o Palácio do Planalto. Se, inegavelmente, Cunha foi atingido politicamente pela divulgação dessa delação, também é certo que o governo terá, a partir de agora, um inimigo declarado dentro do Congresso.
O presidente da Câmara poderá até definhar e desaparecer por conta das acusações que Camargo fez contra ele. Mas, até lá, tentará produzir o máximo possível de estragos ao governo, a quem responsabiliza pelas acusações que sofreu. No primeiro dia da guerra, operou para criar duas CPIs que têm o governo como alvo: a do BNDES e a dos Fundos de Pensão. O ponto é esse. Se Cunha perde força com as denúncias, o governo também se enrola mais nas dificuldades com o Legislativo. E isso pode se transformar num abraço de afogados, repetindo, por exemplo, a briga que derrubou politicamente os então senadores Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho.
Planalto e Cunha brigam desde o fim do ano passado, quando o deputado peemedebista colocou na rua sua candidatura à presidência da Câmara e viu o governo e o PT torpedearem sua campanha sem sucesso. Como presidente da Câmara, Cunha aproveitou a fragilidade do governo para ocupar espaços e trazer para o Congresso o comando da agenda política do País. Agenda essa que o governo espera retomar agora com uma eventual derrocada do deputado, provocada pelas investigações da Lava Jato. Um dado político importante, porém, é que Eduardo Cunha não foi eleito presidente da Câmara apenas por conta de sua personalidade forte.
Ele chegou aonde chegou por ser a voz de todos os parlamentares do Congresso que se sentem escanteados pelo governo nas suas reivindicações - seja de apoio, cargos, verbas, espaço, etc. Cunha tem funcionado como uma espécie de aríete do Congresso nas portas do Executivo, representando seus colegas e seus companheiros do PMDB. E, por conta disso, controla importante força política. E, nos movimentos de Cunha na guerra contra o governo, o impacto imediato poderá ser sentido na economia, já bastante combalida no primeiro semestre.
Com suas articulações políticas, Cunha vai operar para barrar a aprovação de medidas do interesse da equipe econômica dentro do ajuste fiscal. Pode, também, contribuir para ampliar o clima de baixa confiabilidade de investidores externos que poderiam se interessar em atuar no Brasil. Isso é tudo o que o governo não precisa. Neste momento, o maior desafio da presidente Dilma Rousseff é justamente fazer a economia dar algum tipo de sinal de vida. Principalmente num momento em que os fantasmas do desemprego e da inflação voltaram a assombrar o dia a dia dos brasileiros. Dados do Caged, referentes ao mês de junho, mostram que o País perdeu 111.199 vagas com carteira assinada neste mês.
É o pior junho desde 1992 para o emprego. Isso já representa o fechamento de quase 350 mil postos com carteira no primeiro semestre. Com o desemprego se ampliando, o governo precisa de todo o seu esforço para aquecer a economia. Com a guerra política deflagrada, entretanto, é impossível garantir a serenidade necessária para que as medidas econômicas possam avançar.
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