• Lula é investigado por ajuda a empreiteira no exterior. Isso é legítimo para um candidato a melhor ex-presidente do Brasil. Mas há detalhes mal contados nessa história
Daniel Pereira – Revista Veja
O ex-presidente Lula nomeou os quatro diretores da Petrobras que foram presos e acusados de participar do maior esquema de corrupção da história do país. Ele também recebeu favores pessoais de empreiteiras investigadas no petrolão e foi contratado por elas para fazer palestras no Brasil e no exterior. Em sua campanha à reeleição, em 2006, contou com uma doação de 2,4 milhões de reais da UTC, dinheiro que, segundo o próprio dono da construtora, Ricardo Pessoa, teve origem no petrolão e não foi declarado à Justiça Eleitoral. Apesar de tantas evidências, Lula não é oficialmente investigado na Operação Lava-Jato. Sua paz de espírito, porém, não está garantida. O petista confidenciou a aliados ter medo de ser preso.
A Procuradoria da República no Distrito Federal abriu, na semana passada, um procedimento criminal para apurar a suspeita de tráfico de influência de Lula em favor da Odebrecht, a maior empreiteira do país e cliente preferencial de recursos do BNDES. Nesse caminho, os investigadores muito provavelmente vão por uma rua sem saída. Não há nada de errado, a princípio, em um ex-presidente se tornar, para ficar na expressão usada por Lula, "um caixeiro-viajante" do Brasil no exterior — e cobrar por isso. Esse é um papel esperado de ex-presidentes dispostos a continuar construindo seu legado mesmo depois de apear do poder. Mas, como suspeitam os promotores, o diabo pode estar nos detalhes.
Ao deixar o Planalto, Lula fez viagens a países da América Latina e da África, pagas pela Odebrecht, com o objetivo declarado de abrir caminho para negócios da construtora e fazer palestras. Em 2011, Lula visitou o Panamá na companhia do ex-ministro José Dirceu — até então com a roupagem pública de consultor de sucesso — e de Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht. Com Alencar, Lula também viajou a Angola, Gana e Portugal. Houve ainda uma empreitada em que os papéis foram invertidos. Ao representar o governo brasileiro em missão oficial à Guiné Equatorial, o ex-presidente convidou Alencar a integrar a comitiva, o que causou desconforto entre funcionários do Itamaraty. A dupla dinâmica Lula e Alexandrino Alencar mostrava grande eficiência — e abria o caminho da riqueza para outras pessoas ligadas ao ex-presidente. VEJA revelou que a Odebrecht contratou Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho de Lula, para trabalhar na construção de uma hidrelétrica em Angola, obra financiada com dinheiro do BNDES. Essa cortesia ajudou a transformar o sobrinho empresário especializado na reforma de varandas de apartamentos em empreiteiro internacional de sucesso. Não deixa de ser mais um feito do lulopetismo em sua missão sagrada de promover a ascensão social das massas.
A convite de Alencar, Taiguara fez parte de uma comitiva de empresários e representantes do governo brasileiro que visitou as obras do Porto Mariel, em Cuba, também tocadas com dinheiro do BNDES. A Procuradoria da República no Distrito Federal agora quer saber que vantagens o ex-presidente obteve da Odebrecht pelos serviços de lobby. Para isso, recorrerá aos colegas que participam da Operação Lava-Jato. Se a Justiça autorizar, a Procuradoria terá acesso a documentos, mensagens, planilhas e depósitos que façam referência a obras da Odebrecht financiadas pelo BNDES ou que tenham sido negociadas com a intermediação de Lula. Haverá também o compartilhamento de depósitos feitos pelas empreiteiras investigadas no petrolão em contas de Lula, de seu instituto e de sua empresa de palestras. Os investigadores já sabem que a Camargo Corrêa repassou, entre 2011 e 2013, 4,5 milhões de reais ao instituto e à empresa de palestras de Lula, inclusive sob a sugestiva rubrica de "bônus eleitoral". Delegados e procuradores também têm dados intrigantes sobre Alexandrino Alencar.
Os delatores Alberto Youssef e Rafael Ângulo Lopez disseram que Alencar organizava o esquema de pagamento de propinas no exterior. Lopez, encarregado de entregar dinheiro vivo a beneficiários do petrolão, contou que fazia o controle dos pagamentos diretamente com Alencar na sede da Odebrecht. Ao ser abordado pelos policiais no momento de sua prisão, Alencar fez três telefonemas. Um deles para o Instituto Lula.
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