• Para ex-presidente, enriquecimento pessoal anula tese de financiamento de projeto político
Ricardo Galhardo, Ana Fernandes – O Estado de S. Paulo
Ao contrário do escândalo do mensalão, em 2005, quando o bom desempenho da economia ajudou o PT a superar a tempestade e vencer a eleição do ano seguinte, os efeitos políticos das revelações feitas pela Operação Lava Jato não poderiam ser suplantados nem por uma repentina e milagrosa melhora das finanças. A diferença é que, desta vez, existem indícios de enriquecimento pessoal dos envolvidos, ao contrário do mensalão, cujo objetivo era financiar o "projeto político" do PT. A avaliação foi feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião com a bancada de deputados estaduais do PT de São Paulo, ontem, dois dias depois da prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, suspeito de se beneficiar pessoalmente do esquema de desvios de recursos da Petrobrás.
Segundo relatos de participantes da reunião, Lula disse que não basta apenas a economia melhorar para o PT sair da crise, como aconteceu em 2005. É preciso encontrar uma explicação plausível para o fato de dinheiro desviado da estatal ter bancado viagens em jatinhos e outras vantagens pessoais dos envolvidos. O PT precisa de uma "narrativa" para explicar os desvios revelados pela Lava Jato. Lula não citou nominalmente Dirceu em momento algum, mas chegou a dizer que confia nos companheiros presos. Reclamou da Justiça e da imprensa e fez a ressalva de que tudo o que tem sido afirmado pela Lava Jato ainda precisa ser provado.
Mas a fala de Lula foi interpretada como uma referência à prisão do ex-ministro. Participantes notaram uma diferença em relação ao discurso de Lula antes da prisão do ex-ministro, quando o ex-presidente dizia que se Dilma e a economia saíssem da crise, levantariam o PT. Os dois não se falam pessoalmente desde a prisão do ex-ministro, em novembro de 2013, de acordo com um diretor do Instituto Lula. Ainda segundo relatos, o próprio Lula reclamou várias vezes dos "vazamentos seletivos" contra o PT e tem mostrado dificuldade para digerir e processar as novas denúncias sem o envolvimento dos adversários.
"Não entendo como pode o dinheiro da mesma empresa ser sujo para o PT e limpo para outros partidos. É como se as empresas tivessem dois caixas. Um para o PT e outro para o PSDB", disse o ex-presidente, segundo integrantes da reunião. Além dos 14 deputados da bancada petista na Assembléia Legislativa de São Paulo, participaram do encontro os presidentes estadual e nacional do PT, Emídio de Souza e Rui Falcão. De acordo com participantes, Lula ouviu atentamente as avaliações e sugestões de cada um dos convidados durante mais de uma hora e só então falou, por aproximadamente 20 minutos.
"Ele está claramente em processo de consulta, procurando um discurso", afirmou um deputado. Apesar do tom "duro e cru" de sua avaliação, nas palavras de um dos convidados, Lula também apontou sinais otimistas.
Economia. Para o ex-presidente, a recuperação da economia é uma "certeza absoluta" e pode ocorrer antes do que foi previsto inicialmente pelo próprio governo, a depender das condições internacionais. A recuperação da economia seria suficiente para afastar as ameaças imediatas contra Dilma – Lula também não usou a palavra impeachment – e garantir o término do mandato. O petista também fez uma análise positiva sobre o comportamento da presidente Dilma Rousseff diante da crise. Segundo ele, a presidente passou a dar mais atenção aos políticos, se abrindo ao diálogo e rompendo o isolamento que marcou o primeiro mandato dela.
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