Por Marcos de Moura e Souza – Valor Econômico
BELO HORIZONTE - Dois anos depois de darem uma vitória inédita ao PT na disputa para governador, eleitores de Minas Gerais devem agora tirar o partido de suas principais prefeituras no Estado. O PSDB tenta colher parte dos frutos do desgaste petista e eleger prefeitos em praças mineiras importantes.
Na capital, Belo Horizonte, João Leite - apoiado pelo senador Aécio Neves (MG) - é o preferido para disputar e vencer o segundo turno. Seria a primeira vitória do partido na capital mineira desde 1988. Seria também, na opinião de aliados de Aécio, um evento que o ajudaria numa eventual segunda candidatura à Presidência da República em 2018.
Ex-goleiro do Atlético Mineiro e deputado estadual em seu sexto mandato, João Leite disputa com um novato na política, o empresário e ex-presidente do Atlético Alexandre Kalil (PHS). O tucano chegou a 35% das intenções de voto, segundo a pesquisa Ibope divulgada na quarta-feira. Kalil tem 24%. O último Datafolha deu 32% a 18%. Os outros nove candidatos patinam entre 1% a 6% das intenções.
A dúvida a essa altura é para aonde irão os eleitores que até agora não simpatizam com os líderes nas pesquisas. Juntos, os nove postulantes têm atualmente entre 23% e 29% das intenções. Entre 13% a 15% dos eleitores dizem que votarão em branco ou anularão e entre 5% e 7% ainda não sabem o que fazer no domingo. A cidade tem 1,9 milhão de eleitores e o Estado, 15,6 milhões.
Um petista interlocutor frequente do governador Fernando Pimentel (PT) diz não ter dúvida: Pimentel e o PT estarão ao lado de Kalil no segundo round. O governador tem bom relacionamento com ele, mas, acima de tudo, quer evitar a vitória do PSDB na cidade. Oficialmente, o partido disse que só vai discutir sua posição a partir de segunda.
Desde 1993, o PT vem se alternando com o PSB na prefeitura de Belo Horizonte. Em uma alternância de compadres, os derrotados apoiavam depois os vencedores. Em 2012 houve uma cisão: os petistas deixaram o então aliado Marcio Lacerda (PSB). Lacerda acabou se reelegendo com apoio decisivo de Aécio.
Este ano, abalado por Lava-Jato e impeachment, o PT entrou para a disputa na capital mineira sabendo de suas poucas chances. Reginaldo Lopes, deputado federal, fez uma campanha relativamente barata, sem marqueteiro, se aproximando das periferias, contra privatizações e com o slogan de golpe contra Dilma. Ficou com 4% nas pesquisas desta semana.
A se confirmarem as intenções de voto, um dos grandes derrotados neste primeiro turno será Marcio Lacerda. Num movimento que se revelou atrapalhado, ele lançou a sua sucessão o alto executivo de uma grande empresa de celulose, a Cenibra. Isso o afastou do grupo de Aécio, que queria o prefeito apoiando um candidato do PSDB. Os tucanos incentivaram então candidaturas de partidos que poderiam entrar no barco do prefeito. Sem alternativas de alianças, Lacerda desistiu na última hora de seu candidato executivo. Acabou apoiando o atual vice-prefeito, Délio Malheiros (PSD). Mesmo com uma avaliação majoritária entre boa e regular de Lacerda, Malheiros atingiu o máximo de 6%, segundo o Datafolha.
Lacerda - que acalenta pretensões de disputar o governo de Minas ou uma vaga no Senado em 2018 - tende a apoiar o tucano João Leite no segundo turno. Kalil criticou seguidamente a atual gestão falando em corrupção. O prefeito registrou duas notícias-crime contra ele.
Os demais candidatos tendem a mais ou menos se dividir, entre Leite e Kalil.
Para o presidente estadual do PSDB, o deputado federal Domingos Sávio, uma vitória em Belo Horizonte facilita o caminho para a eleição a governador em 2018. E seria boa notícia para Aécio. "A eleição de João Leite seria algo que fortalece Aécio assim como uma eleição de João Dória em São Paulo fortalece Geraldo Alckmin", disse ele. Os dois são nomes do partido para disputar a presidência em 2018.
Sávio aposta num bom desempenho do partido não só em Belo Horizonte, mas em outras cidades importantes de Minas. Em Governador Valadares, o candidato do PSDB está a caminho de levar já no primeiro turno. Em Contagem, está no páreo em uma disputa apertada com PCdoB e contra o PR para ir para o segundo turno. Em Poços de Caldas, a briga pelo segundo turno é com PT e PSB. Em Pouso Alegre, o partido ficou dividido, lançou dois candidatos a prefeito e a questão foi para a Justiça. Os tucanos contam que o atual candidato tenha boas chances. Já em Juiz de Fora, Uberaba, Ipatinga e Teófilo Otoni, os tucanos disputam com candidatos a vice-prefeito.
O partido de Marcio Lacerda tem candidatos fortes em duas cidades importantes. Em Uberaba, deve disputar o segundo turno. E em Montes Claros, o prefeito Ruy Muniz, cercado por acusações de corrupção, briga na Justiça para se manter na disputa.
Assim como Lacerda e Aécio, Pimentel gravou mensagens de apoio a diversos candidatos em Minas. No PT, as apostas são de que, entre as cidades maiores, a legenda disputará o segundo turno em Juiz de Fora e Teófilo Otoni.
A dificuldade do partido se dá nas cidades maiores em que hoje governa. É o caso de Governador Valadares, onde os tucanos devem levar já no primeiro turno. É o caso de Ipatinga, onde o PMDB, com um vice do PSDB, tende também a faturar domingo. Em Uberlândia, comandada por um prefeito petista, o PP está perto de se eleger. Em Poços de Caldas, o prefeito tenta conter a pressão do PSDB e do PSB. E em Pouso Alegre, o PT - que também é governo - nem lançou candidato. "Há uma onda midiática contra o partido e é lógico que isso interfere na decisão dos eleitores", disse a presidente do PT de Minas, Maria Aparecida de Jesus.
"Mas, a militância mostrou que ao contrário do que muita gente imaginava, o PT não morreu."
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