Por Fabio Pontes – Valor Econômico
MANAUS - O processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) influencia de forma direta a disputa pela Prefeitura de Manaus com a reagrupação das principais forças políticas da cidade. A saída do PT do Planalto colocou no mesmo palanque duas lideranças locais que até bem pouco tempo não dividiam o mesmo metro quadrado, e deixou para a esquerda manauara o teto de uma Kombi como único palanque. Isso após, por muito pouco, em 2012, embalado pela popularidade de Lula e Dilma, o grupo não sair vitorioso.
O prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) encontrou no senador e ex-ministro Eduardo Braga (PMDB) o principal aliado. A aliança acontece após o pemedebista ter trabalhado em duas campanhas pela derrota de Virgílio: a primeira, em 2010, pelo Senado e a última pela Prefeitura de Manaus, em 2012.
Então aliado do governo petista, Braga atuou há quatro anos diretamente na campanha da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). A eleição foi disputada voto a voto até o fim do segundo turno, com o tucano saindo vitorioso. Além do PMDB, Grazziotin era apoiada por PP e PSD, partidos que tomaram outros rumos no pós-impeachment.
Passados quatro anos, o tabuleiro político em Manaus mudou. Com o agora governador José Melo (Pros) cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral por corrupção na eleição de 2014, em decisão que ainda cabe recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o governo estadual passando por desgastes por conta da crise nas finanças, Arthur Virgílio se viu obrigado a se afastar de Melo, apagar ranhuras do passado e buscar acordo com Eduardo Braga e o PMDB.
"Eu me aliei ao Eduardo Braga. Os outros serviram ao Eduardo Braga. É diferente. Eu não acho que eu tenho status político maior que o dele, nem ele tem status político maior do que o meu. É a união de duas lideranças que chegaram ao consenso pelo bem de Manaus", afirma Arthur Virgílio ao Valor.
Segundo o prefeito, a aproximação com o antigo adversário foi uma forma de sua gestão estreitar relações com o governo Michel Temer em busca de recursos. A aliança resultou na indicação do deputado estadual Marcos Rota (PMDB) como vice de Virgílio. Até as vésperas das convenções, Rota se apresentava como pré-candidato a prefeito pelo PMDB. "É o vice dos sonhos", define o tucano.
O prefeito afirma ter se afastado do governador José Melo por questões éticas ante os processos de crimes eleitorais à que responde - a grande maioria movida por Eduardo Braga. Melo foi cassado em janeiro por ter usado recursos desviados para serviços da Copa em sua campanha eleitoral.
O caso mais recente de suposta corrupção atribuída ao governo do Amazonas foi revelado pela operação Maus Caminhos, da Polícia Federal, realizada em 20 de setembro. As investigações apontaram o desvio de R$ 112 milhões dos cofres da Saúde por meio de uma organização social contratada para gerenciar hospitais em Manaus e no interior.
"Eu tive razões reais para me afastar dele [José Melo]", diz o candidato à reeleição. Após ter Vanessa Grazziotin como concorrente direta há quatro anos, o tucano enfrenta o ex-deputado estadual Marcelo Ramos (PR). O jovem político é apoiado pelo ex-ministro e atual deputado federal Alfredo Nascimento (PR).
Ainda como cabo eleitoral ele conta com o senador Omar Aziz (PSD) e de, forma indireta, o governador. Para evitar o desgaste deste último apoio, Ramos evita exposições com Melo. Segundo pesquisa Ibope/Rede Amazônica (afiliada Globo) do último dia 24, Arthur Virgílio teria 42% das intenções de voto, contra 20% de Marcelo Ramos. Com o resultado, os dois iriam para o segundo turno.
Após protagonizar a eleição de 2012, Vanessa Grazziotin observa a eleição em Manaus quase que a distância. Ela afirma ter ficado de fora da disputa por não ter tido condições, já que sua prioridade, até agosto, era a defesa da ex-presidente Dilma no processo de impeachment no Senado.
Ela afirma que o Amazonas vive um momento político peculiar, com a "rearrumação" de suas forças políticas. "Aqueles que até ontem, até essa madrugada, eram nossos aliados, eles passaram a ser os principais adversários", analisa a senadora. Segundo a comunista, com exceção do PSDB e do DEM, todos os partidos no Estado eram aliados de Lula e Dilma.
Seu candidato a prefeito é o deputado estadual José Ricardo (PT), que tem o PCdoB da senadora como único aliado. O petista tem feito pouca exposição dos símbolos de seu partido e das imagens de Dilma e Lula, duas figuras que sempre tiveram expressivas votações no Amazonas.
Conhecido como o "homem da Kombi", por fazer do teto do veículo seus comícios quase que solitários, Ricardo diz que a prioridade é apresentar propostas ao eleitor, e que o não tem sentido rejeição pelo fato de ser do PT. "As pessoas não estão preocupadas com o PT. Eles querem saber das propostas para sua rua, para a falta d'água, do transporte. Ninguém me pergunta do PT, se estou com Lula e Dilma", afirma. Segundo o Ibope, ele tem 6% da preferência dos eleitores.
Ao todo Manaus conta com nove candidatos em 2016. Além de Virgílio, Ramos e Ricardo, estão na briga por votos o ex-prefeito Serafim Corrêa (PSB), os deputados federais Silas Câmara (PRB) e Hissa Abrahão (PDT), Henrique Oliveira (SDD), Luiz Castro (Rede) e Queiroz (Psol). Com dois milhões de habitantes, a capital do Amazonas tem um eleitorado de 1,2 milhão de pessoas.
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