Por Marina Falcão – Valor Econômico
RECIFE - Polarizada entre o prefeito Geraldo Julio (PSB) e ex-prefeito João Paulo (PT) desde o início, a disputa pela Prefeitura do Recife tem um cenário ainda indefinido às vésperas da votação. Embora todas as pesquisas de intenções votos sinalizem um segundo turno entre os dois candidatos, a possibilidade de Julio liquidar a fatura no domingo não é descartada pelos especialistas.
Um pesquisa do Ibope realizada no início da semana mostra o prefeito com 46% dos votos válidos, contra 29% do candidato petista. "Seria um chutômetro apontar com segurança se o pleito vai ou não para o segundo turno. Nesse momento, o quadro é incerto", diz Túlio Velho Barreto, cientista político da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
Julio e João Paulo deram largada a campanha em uma situação de empate técnico, na liderança. Correndo por fora, o deputado federal Daniel Coelho (PSDB) aparecia em terceiro nas pesquisas, seguido da deputados estaduais Priscila Krause (DEM) e Edilson Silva (Psol).
Nas últimas cinco semanas, Julio, afilhado político do falecido governador Eduardo Campos, cresceu, enquanto João Paulo encolheu. A diferença entre os dois chegou ao pico agora, somando 14 pontos percentuais - Julio (40%) e João Paulo (26%) -, considerando uma margem de erro de três pontos percentuais.
A campanha curta não favoreceu Coelho, que buscava se apresentar como terceira via diante dois nomes fortes: um prefeito com uma aprovação "razoável" (de 58%, segundo Ibope) e um ex-prefeito com duas gestões bem-avaliadas (2001 a 2008), a ponto de conseguir eleger o seu sucessor João da Costa (PT) em primeiro turno em 2008.
Coelho brigou para se lançar candidato no Recife, contrariando a aliança nacional entre o seu partido e o PSB costurada pelo senador Aécio Neves para o segundo turno das eleições presidenciais. O tucano vem, em ritmo lento, reduzindo sua distância em relação ao candidato do PT. No entanto, com os atuais 17% dos votos - seu melhor patamar até agora - Coelho ainda está a nove pontos percentuais de João Paulo.
O tucano adotou o discurso da "virada" e, ainda que não seja possível ultrapassar o PT, uma arrancada de Coelho de última hora é plausível. Foi o que aconteceu em 2012, quando, contrariando todas as expectativas, o tucano quase foi ao segundo turno contra Julio, ficando a frente de Humberto Costa (PT) e Mendonça Filho (DEM).
Resta saber para quem vai o voto útil contra o PT no domingo: para PSB, encerrando a disputa no primeiro turno, ou para o PSDB, numa tentativa de eliminar o candidato petista do segundo.
Se o cenário previsto pelo Ibope se confirmar nas urnas, Julio dá largada ao segundo turno em vantagem. Ainda que o PSDB não confirme apoio oficial ao PSDB, é pouco provável que os votos do tucano sejam transferidos para o PT. O mesmo pode se dizer dos votos de Priscila Krause, que têm 3%. "São eleitores que tradicionalmente têm resistência a legenda do PT", avalia Barreto.
João Paulo tem a segunda maior rejeição entre os candidatos (35%), enquanto Julio tem 22%. Outro aspecto deixa o candidato petista em desvantagem em relação a Julio no segundo turno: o baixo desempenho do candidato do Psol, Edilson Silva, que só aparece com 1% das intenções de votos.
Numa simulação de segundo turno, Julio levaria a disputa com 51% dos votos, contra 34% do candidato do PT.
Em campanha pautada porquestões locais, temas como a corrupção do PT e o escândalo de no financiamento de campanhas do PSB revelado pela Operação Turbulência, da PF, ficaram em segundo plano. O envolvimento de Julio na aprovação da construção da PPP da Arena Pernambuco, investigada por superfaturamento, também foi ofuscado. "Quem podeira levantar esse temas contra o PSB era o PT, que não tem fôlego para levantar essa bandeira diante dos escândalos nacionais. Além disso, acredito que há uma percepção de que a população está saturada do tema", avalia Barreto.
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