- Folha de S. Paulo
A vitória de Donald Trump desnudou tantos tão errados. E esses não são os eleitores dele, mas os muitos que previram vitória confortável de Hillary Clinton.
O evento eleitoral mais importante da temporada, esquadrinhado de perto por vários dos melhores cientistas de dados e analistas do planeta e alimentado pelo maior volume de dinheiro da política mundial, resultou numa baita zebra.
A certeza equivocada sobre a improbabilidade de vitória dele ecoou por tanto tempo que o efeito manada encaçapou até Obama. Sempre tão perspicaz, ele caiu na armadilha de mais de uma vez fazer chacota de Trump naquele nível "sei-que-isso-não-vai-acontecer".
Deu ruim também para Nate Silver, semideus das previsões estatísticas nos EUA. Depois de errar na convenção republicana, apostou suas fichas em Hillary. Rendeu-se com um post lacônico ("é o acontecimento político mais chocante da minha vida").
e deixou a guarda aberta para ataques ao seu modelo. Um deles de uma ex-colega sua, Mona Chalabi, hoje no jornal "The Guardian": "Às vezes parecia que a interpretação dos números não estava livre de viés subjetivo." Em outras palavras, mágica não existe sem truque.
Os problemas de análise da votação nos EUA não acabam aí. Assim como na eleição municipal brasileira, o processo lá indicou que as redes sociais recriam a dinâmica do voto, um fenômeno ainda pouco compreendido. Trump revelou-se esperto nesse novo quebra-cabeças –o papel de vilão deveras reluz nas timelines. Novos estudos do comportamento do eleitor talvez devessem partir de uma tábula quase rasa.
Alguns dos que estiveram equivocados ao antever o desfecho da corrida são os mesmos que cantam o fim do mundo com a chegada de Trump à Casa Branca, e nesse caso de maneira ainda mais impressionista. Convém ler essas previsões com um tantinho a mais de cautela.
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