A confirmação da vitória de Donald Trump na corrida para suceder a Barack Obama na Casa Branca causou perplexidade em boa parte do mundo. Candidato que se colocou à margem do sistema político, o magnata do setor imobiliário conseguiu atrair o voto —e a esperança — de milhões de americanos insatisfeitos, muitos dos quais afetados pelos efeitos econômicos e sociais da crise financeira de 2008. A vitória numa das eleições mais polarizadas da história recente dos EUA foi o triunfo de um discurso populista, calcado num nacionalismo que se julgava ultrapassado em nações desenvolvidas.
Desde as primárias, passando pela belicosa disputa com a oponente democrata Hillary Clinton, Trump compôs a retórica eleitoral num duplo eixo: prometendo devolver a grandeza perdida dos EUA e culpando agentes externos pelos infortúnios do país. Assim, na lógica trumpista, a integração global eliminou empregos americanos; os imigrantes hispânicos aumentaram o problema das drogas e da violência; as comunidades muçulmanas abrigaram terroristas, entre outros discursos xenófobos, misóginos e racistas.
Além do sucesso na corrida presidencial, os republicanos também garantiram maioria nas duas Casas do Congresso. Nesse sentido, a vitória de Trump foi acachapante, apesar do resultado apertado nas urnas. À sombra de Trump ressurgem grupos políticos extremistas que andavam enfraquecidos, como Ku Klux Klan e similares, e enterra-se o sonho democrata de compor uma Suprema Corte com maioria progressista, para tratar de questões como aborto, direitos LGBT, descriminalização da maconha, entre outros.
Como única superpotência hoje, o resultado das eleições americanas tem forte impacto no resto do mundo. E o panorama que se abre com a vitória de Trump não é auspicioso, considerando-se as promessas de campanha. Estão ameaçados, por exemplo, o Acordo de Paris sobre o clima; a reaproximação dos EUA com Cuba; e o pacto nuclear com o Irã, para citar três iniciativas históricas que compõem o legado de Barack Obama.
Mas talvez o fator mais preocupante seja a mentalidade nacional-populista de Trump — que, nesse sentido, tem forte identificação com o líder russo Vladimir Putin. A vitória do magnata antiestablishment reforça, assim, uma tendência que já se manifesta claramente na Europa, com a opção dos britânicos pelo Brexit e as vitórias em eleições regionais e gerais de partidos e líderes extremistas eurocéticos. Trump também prometeu abrir guerra comercial contra a China e anular as negociações em torno de pactos comerciais multilaterais, como a Parceria Transpacífica e até mesmo o Nafta.
As promessas de Trump implicam, enfim, uma mudança radical de rumo dos EUA, com efeitos mundiais. Resta ver se e como ele as cumprirá.
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