• Distribuição de cadeiras na Câmara e no Senado favorece republicanos, mas novo líder precisará negociar com grupos dentro do próprio partido para aprovar pautas como o aumento do teto de gastos públicos; democratas usarão obstrução
Cláudia Trevisan – O Estado de S. Paulo
O presidente eleito Donald Trump assumirá a Casa Branca no dia 20 de janeiro com a maior base republicana no Congresso desde 1928 e a disposição de usar o poder do Executivo para transformar elementos fundamentais das políticas externa, econômica e social dos EUA. Mas os democratas terão o poder de usar a obstrução para bloquear ou retardar a aprovação das propostas no Senado.
“Nós veremos mudanças gigantescas de políticas públicas e há muitas coisas que o presidente pode fazer por decreto”, afirmou David Birdsell, reitor da Escola Marxe de Relações Públicas e Internacionais.
Apesar de ter maioria no Congresso, o professor avaliou que Trump poderá entrar em conflito com setores do Partido Republicano que defendem a redução do déficit público e se opõem ao aumento de gastos governamentais.
Contrariando os conservadores fiscais da legenda, o presidente eleito prometeu manter benefícios sociais e ampliar investimentos em infraestrutura.
Trump venceu com um discurso populista e nacionalista, de rejeição da globalização e o compromisso de colocar os interesses dos americanos em primeiro lugar. Sua promessa de trazer de volta empregos industriais, renegar acordos de livre comércio e deportar imigrantes ilegais encontrou eco principalmente entre trabalhadores brancos sem educação superior que se transformaram em sua principal base de apoio.
“Os homens e mulheres esquecidos de nosso país não serão mais esquecidos”, disse o presidente eleito em seu discurso de vitória na madrugada de quarta-feira, no qual elogiou a adversária Hillary Clinton, a quem acusou de ser uma criminosa na campanha. “Agora é o momento para a América curar as feridas da divisão”, declarou um moderado Trump. “Para todos os republicanos, democratas e independentes do país, eu digo que é o momento de nos aproximarmos como um povo unido.”
A expectativa de que os democratas ganhariam o controle do Senado também não se concretizou. Os republicanos terão 51 das 100 cadeiras do Senado, nove a menos que as 60 necessárias para evitar manobras de obstrução da oposição. Chamada de filibuster, a prática foi usada com frequência pelos republicanos quando eram minoria na Casa no governo Obama.
Mundo. As relações exteriores são o terreno em que Trump terá a maior liberdade de atuação, mas ainda não está claro quais de suas promessas ele pretende de fato cumprir, observou Carla Robbins, especialista em segurança nacional e diplomacia do Council on Foreign Relations. “Ele não tem experiência em política externa e seu slogan ‘América em Primeiro Lugar’ tem inspiração isolacionista e quase neofascista.”
Segundo Robbins, muito do que será feito dependerá da equipe que Trump nomeará para comandar a diplomacia e a defesa americana, o que não será uma tarefa simples. Grande parte dos especialistas em segurança nacional do Partido Republicano rejeitou a candidatura de Trump, por considerá-la contrária aos princípios da política externa americana.
Números. Hillary perdeu a disputa no Colégio Eleitoral, mas venceu o voto popular. Com a apuração quase concluída na tarde de quarta, ela tinha 59,7 milhões de votos, 210 mil a mais que os 59,47 milhões obtidos pelo adversário. A democrata se tornou o quinto caso na história de candidatura a vencer na votação direta, mas perder no Colégio Eleitoral – Trump obteve, até quarta, 290 votos eleitorais contra 228 da rival.
Enquanto Trump teve mais votos entre brancos que o candidato republicano de 2012, Mitt Romney, Hillary ficou abaixo do vencedor daquele ano, Barack Obama, em todos os grupos demográficos – os hispânicos deram a ele mais votos que a Romney quatro anos atrás.
Além de Hillary, as sondagens de intenção de voto, que foram quase unânimes em apontar uma vitória da democrata, foram grandes derrotadas na eleição americana.
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