Donald Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, como havia prometido, e deu mais um passo rumo ao isolamento internacional. Há poucas dúvidas de que os EUA têm mais a perder do que ganhar com a saída, embora os danos que a ausência americana trará sejam grandes. O exemplo dado pela maior economia do mundo, e segunda poluidora mundial, pode levar nações recalcitrantes a mostrarem menor engajamento no combate à mudança climática. Para um acordo que não tinha alinhavado compromissos suficientes para impedir que o aquecimento atinja 2 graus centígrados, a decisão americana é um revés inquestionável. Os republicanos fizeram a mesma coisa com o protocolo de Kyoto.
Trump e seus principais assessores, como Steve Bannon, demonstraram mais uma vez sua imensa ignorância ao lidar com assuntos que têm impacto global. O presidente se alinhou ao que existe de mais retrógrado em seu governo em nome do negacionismo e da proteção de setores decadentes da economia americana. A consciência ecológica cresce em todo o planeta, sob catástrofes climáticas crescentes, e seu apelo foi capaz de sensibilizar até mesmo republicanos, como a filha de Trump, Ivana, que se opôs ao pai na questão.
O governo de Barack Obama tentou e conseguiu dar vários passos à frente na questão ambiental, mesmo tendo contra si as duas casas do Congresso dominadas pelos republicanos. Se na CoP de Copenhague em 2009 os EUA poderiam fazer a diferença e não fizeram, na de Paris a atuação americana foi vital para conduzir o processo e estimular adesões, em especial com tratativas bilaterais intensas com o maior poluidor, a China.
Trump prometeu destruir o legado de Obama nesta e em outras áreas e conseguirá alguma coisa. Será difícil, porém, barrar os progressos feitos, não apenas pela compreensão do eleitorado americano sobre o que está em jogo no ambiente. Como o negócio dos EUA sempre foram os negócios, esforços e investimentos massivos foram dirigidos para a pesquisa de energias limpas e de baixo carbono, um dos setores da vanguarda tecnológica em escala global.
Gigantes da indústria americana, já engajados no combate ao aquecimento global, manifestaram-se em público contra o atraso representado pela posição de Trump. As razões econômicas foram ignoradas pela Casa Branca. As empresas que se dedicam a toda a cadeia de energia limpa empregam três vezes mais gente que as do carvão, que Trump quer proteger. Se já é um emissor de CO2 terrível, o carvão tem contra si o custo já não competitivo, em relação ao gás natural, e que tende a ser desvantajoso diante da rápida queda de preço das energias solar e eólica.
Trump desconsiderou o fato de que as tecnologias verdes estão na fronteira das inovações tecnológicas e da redução de custos e que os Estados Unidos têm todas as condições de ser, como já é, um dos líderes dessa revolução. A vantagem do pioneirismo, como tantas empresas do Vale do Silício mostraram, são lucros maiores e domínio de mercados, pelo menos na largada.
Uma parte dos EUA não seguirá a rota de Trump em direção ao passado. Quatorze governadores enviaram carta à Casa Branca defendendo o acordo de Paris, entre eles, New York e Califórnia, e se uniram para tentar fazer a sua parte para cumprir os objetivos americanos declarados de reduzir as emissões de 26% a 28% até 2025, a partir do nível de 2005.
O MIT quantificou o que esse esforço poderia realizar - 40% das metas de emissões. Além disso, esses Estados poderiam cumprir 60% da meta de expansão de energias renováveis constante do Clean Power Act, assinado por Obama. Há 3 milhões de empregos na indústria "verde", a maioria, de 2,2 milhões, dedicados a melhorar a eficiência energética, 475 mil empregados na cadeia de energia solar e eólica, 260 mil em veículos alternativos e 120 mil na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de baixo carbono.
O duro golpe de Trump na luta contra o aquecimento global poderá ser seguido por outros. Um dos argumentos (falsos) contra o acordo de Paris é o de que ele colocava os EUA em desvantagem em relação a contumazes poluidores. Trump age como se o multilateralismo fosse uma conspiração contra os EUA. "O acordo representa outra barreira injusta ao comércio que os EUA não podem tolerar", disse Robert Lighthizer, o novo chefe da USTR. É uma questão de tempo até que os EUA tentem jogar com suas próprias regras e abalos na OMC, que pode ser a próxima vítima.
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