Braço paulista do partido defende saída da legenda do governo, mas decide não enfrentar cúpula
Daniel Weterman e Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo
Após uma intervenção política do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e um discurso inflamado do prefeito João Doria (PSDB), o diretório estadual do PSDB de São Paulo recuou e decidiu, em reunião realizada nesta segunda-feira, 5, não tomar uma posição oficial sobre o desembarque do partido do governo do presidente Michel Temer (PMDB). Esse foi o segundo recuo do braço paulista do PSDB. Na semana retrasada, a Executiva do partido se reuniu, mas acabou por não chegar a uma decisão oficial.
A expectativa da reunião plenária convocada para a tarde desta segunda-feira, e que reuniu cerca de 200 pessoas, entre prefeitos, deputados, vereadores e lideranças na sede do partido na capital, era de que os tucanos paulistas pedissem oficialmente que o partido entregasse os cargos no governo, o que ampliaria em pressão sobre a bancada federal tucana.
Preocupado com a repercussão do movimento, Temer veio até São Paulo pedir ajuda do governador em uma reunião no Palácio dos Bandeirantes, na sexta-feira, 2. Um dia antes, Alckmin, por sua vez, realizara um jantar com prefeitos do partido para pedir cautela.
Ao longo do encontro desta segunda, as lideranças se mostraram propensas a pedir o rompimento e se revezaram no microfone em discursos acalorados. Entre os que defenderam o desembarque estavam o deputado federal Carlos Sampaio, vice-presidente nacional jurídico do partido, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, e o presidente estadual do PSDB, deputado estadual Pedro Tobias.
"O que ocorreu foi grave, não vamos tergiversar. O PSDB não pode ter uma ética de bambu, o episódio da JBS calou fundo aos brasileiros", disse Sampaio. Na mesma linha, Morando fez um discurso ainda mais incisivo. "Eu tenho vergonha de apoiar esse tipo de governo. O PSDB não pode apoiar o presidente Temer em troca de cargo", afirmou.
Em defesa da permanência do PSDB no governo, pelo menos até o final do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que começa nesta terça-feira, 6, discursaram o ex-senador José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, e parlamentares próximos ao governador, como o deputado federal Miguel Haddad. "Nós não queremos que no ano que vem prevaleça uma polarização salvacionista, Bolsonaro, Lula, que são um desastre para o Brasil", disse Aníbal.
Durante a plenária, que não contou com a presença de Alckmin, Tobias chegou a ser interpelado por Morando sobre qual seria afinal a posição do partido. Respondeu a ele que levaria a Brasília a posição pelo rompimento.
Mas terminado o evento, e após um discurso inflamado de Doria contra o desembarque tucano, Tobias mudou de posição e irritou-se com jornalistas que insistiram em questioná-lo. "Me deixem em paz, vocês querem ver sangue. O PSDB não tem posição, vamos analisar amanhã (terça, 6)", falou.
Na saída do encontro, Tobias permaneceu ao lado de Doria durante uma entrevista coletiva, onde mais ouviu do que falou. "Há um trabalho conjunto com o prefeito e o governador? Lógico, estamos em sintonia com eles", disse o presidente estadual tucano, destacando que pessoalmente é favorável ao desembarque, mas que não poderia "impor" sua opinião à legenda.
Questionado se o PSDB deve esperar ao lado de Temer mesmo que o julgamento do TSE seja adiado por um pedido de vista, ou eventuais medidas protelatórias da defesa do presidente empurrem o desfecho em meses, Doria foi cauteloso. "Fazer análise sobre hipóteses agora não é um ato responsável. Cada dia sua agonia."
O 'guerreiro'. O prefeito não era esperado na reunião plenária do diretório estadual do partido, mas chegou a tempo de fazer o último discurso. Em sua fala, o tucano fez uma longa preleção antes de dizer que ao PSDB "não cabe tomar uma decisão agora". "Nosso inimigo chama-se PT, partido que é inimigo do Brasil", afirmou.
Em outro momento do discurso, defendeu enfaticamente que o partido aguarde o julgamento do TSE para que a legenda tome uma posição. "Não há razão para uma decisão precipitada, após a decisão da Justiça tomaremos a decisão certa", disse.
O discurso foi muito aplaudido e terminou com o tema da vitória do piloto Ayrton Senna, que é uma marca registrada de Doria. Para surpresa de muitos presentes, Tobias simplesmente decidiu não encaminhar uma votação entre os participantes.
Doria ressaltou que a posição apresentada por ele era também a do governador. "Nossa posição é indivisível, não há a menor possibilidade de dividirem Geraldo e João", afirmou.
Ao explicar sua presença no evento, Doria se comparou a um guerreiro. "O fácil para o prefeito de São Paulo era não vir. Para que vou me expor? Mas esse não é o João Doria, o João Doria é guerreiro. Muitas vezes, pelas boas causas, a precipitação pode levar à fragilização de um guerreiro e pode condenar um exército vitorioso à derrota."
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