Em teleconferência, perguntas a Meirelles focam em chances de mudança da Previdência passar
Martha Beck, Gabriela Valente | O Globo
O governo Michel Temer pode estar vivendo seu pior momento político, mas parece já ter conseguido blindar a economia. Passada a turbulência inicial provocada pela delação premiada do dono da JBS, o empresário Joesley Batista, que colocou Temer no centro da crise, o mercado financeiro foi convencido de que a atual política econômica será preservada por quem quer que seja o comandante do Planalto.
Um sinal disso foi dado, ontem, durante teleconferência organizada pelo banco Bradesco com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Durante a conversa, investidores brasileiros e estrangeiros perguntaram sobre o desempenho da economia e a agenda de reformas, mas em nenhum momento questionaram Meirelles sobre o impacto da saída de Temer.
O ministro reconheceu que a situação política pode afetar o cronograma de votação da reforma da Previdência. Mas, ao ser perguntado se teria os 308 votos necessários para a aprovação da proposta no plenário da Câmara, acenou positivamente. Meirelles também aproveitou para ressaltar a retomada do crescimento da economia no primeiro trimestre de 2017 e reforçou que o PIB subirá 0,5% este ano.
— Não houve chuva de perguntas sobre a saída de Temer. O mercado entendeu que a agenda continua a mesma — disse um interlocutor da equipe econômica.
Desde que O GLOBO divulgou o conteúdo da delação da JBS, Meirelles e o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, têm conversado com investidores e outros agentes do mercado. A mensagem é uma só: não importa o que aconteça, a política econômica não muda. Logo no dia seguinte à divulgação da delação, Meirelles participou de uma teleconferência promovida pelo banco de investimento JPMorgan, com 1.400 ouvintes.
E a diretriz da equipe econômica é não alterar a rotina de trabalho, nem mesmo esta semana, em que o presidente pode ser cassado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A chance de haver uma leve reação no mercado ao longo da semana é considerada, mas dada como pouco provável.
Hoje, quando o TSE promete começar a julgar a ação que pede a cassação da chapa Dilma/Temer, Meirelles estará em Paris para uma reunião da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Já o presidente do BC participa, em Brasília, de um encontro sobre inclusão financeira.
Ilan deve reforçar os termos da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a ser divulgada hoje. Na quarta-feira, o BC cortou a Selic em um ponto percentual, a 10,25% ao ano. O BC vai monitorar o mercado hoje, para evitar oscilações. A avaliação é que não haverá tumulto, como ocorreu após delação da JBS.
— Vai ser normal, sem grandes movimentos, já que não existe proposta de ruptura na mesa: não será um louco que vai assumir se a chapa for cassada — disse um técnico da área econômica. — Se houvesse algo do tipo “chapa cai, volta a nova matriz (política do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega)”, aí poderia haver bastante ruído. Mas não é este o cenário.
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