O que está em jogo é a capacidade para sustar e reverter o crescimento avassalador do saque ao Estado e estabelecer medidas contra este crime organizado
A trajetória da corrupção na era PT pode ser representada por uma linha reta em direção ao céu. O mensalão foi denunciado em 2005, pelo aliado Roberto Jefferson (PTB-RJ), por ter sido contrariado numa partilha, e desconfiar de José Dirceu, chefe da Casa Civil e regente do esquema no governo Lula. Um escândalo, mas os aproximadamente R$ 74 milhões desviados do Banco do Brasil pelo diretor de marketing e sindicalista Henrique Pizzolato, para abastecer o esquema do mensalão de compra de apoio a Lula no Congresso, seriam “dinheiro de bolso" no petrolão, descoberto pela Lava-Jato.
O mensalão teve origem na cúpula do PT, voltada a financiar, de qualquer forma, os gastos para sustentar e avançar com o projeto de poder lulopetista: ganhar eleições e forjar bancadas majoritárias, também a qualquer preço. Isto levaria à complementação de interesses: empresários em busca de contratos volumosos com o Estado estavam dispostos a atender aos pedidos de dinheiro de políticos. Entregue no apoio a campanhas conforme estabelece a Justiça Eleitoral, ou por caixa 2, contas no exterior, em paraísos fiscais mundo afora. Nenhuma novidade, mas o que seria revelado sobre os esquemas e o volume de dinheiro manipulado surpreenderia.
O petrolão funcionou de maneira paralela ao mensalão. E continuou a ser operado mesmo com o lançamento da Operação Lava-Jato, em março de 2014. Um dos primeiros a assinar acordo de delação premiada em Curitiba, Pedro Barusco, gerente-geral da diretoria de Serviços da Petrobras, de Renato Duque, indicado pelo PT, ainda preso em Curitiba, causou outro espanto quando disse que havia embolsado US$ 90 milhões em propinas. O mensalão viraria migalhas diante do petrolão.
Admitiu que corrupção sempre houve na Petrobras. Ele recebeu dinheiro “por fora", de fornecedores, durante o governo tucano. Mas “corrupção sistêmica”, como disse, só a partir de Lula.
Delações e depoimentos mais recentes — da cúpula da Odebrecht; os testemunhos de Léo Pinheiro, da OAS; e o que já disse Joesley Batista, do JBS — incluíram no mapa da corrupção negócios no BNDES, multiplicaram as cifras envolvidas nos acertos de empresas com políticos do PT — Lula, Dilma, Antonio Palocci, Guido Mantega, entre outros — , e tornaram a bancada da corrupção ainda mais multipartidária. O próprio presidente do PSDB, senador Aécio Neves, entrou na lista, pela porta do JBS.
Relatos de Marcelo Odebrecht e executivos da empreiteira, além de Joesley Batista, comprovam que as cifras de propinas explodiram. Segundo Joesley, ele mesmo abriu na Suíça duas contas para Lula e Dilma, com ao todo US$ 150 milhões. Barusco vai ficando para trás. Ainda Joesley relatou os altos pedidos de Guido Mantega, ministro da Fazenda.
Marcelo Odebrecht relatou que, antes de ter Mantega como interlocutor para assuntos de propina, acertou com Palocci, o “Italiano”, uma conta para ficar à disposição de Lula: R$ 40 milhões. Sem incluir o pagamento por “palestras”, maneira que a empresa encontrou de dar uma remuneração regular ao ex-presidente. Já Léo Pinheiro, da OAS, cacifou com o tríplex do Guarujá — mas deduzido da conta de propina aberta com o PT — e, ao lado da Odebrecht, reformou o sítio de Atibaia. A lista de favores é extensa e ainda não está fechada.
O que está em jogo em tudo isso é a capacidade que terão as instituições de não apenas sustarem e reverterem este crescimento avassalador do saque ao Estado, a partir da chegada ao Planalto do lulopetista com seu caro projeto de perpetuação no poder, mas, tanto quanto isso, estabelecerem contrapesos para estrangular a corrupção sistêmica. Por isso, há tantas escaramuças contra a Lava-Jato. A depender do destino da operação e seus desdobramentos, saberemos se o Estado e a sociedade terão vencido ou perdido esta guerra decisiva. Disso dependerá se o Brasil será de fato desenvolvido em todos os sentidos. Ou não.
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