- Folha de S. Paulo
Crise grega sobre auxílio-moradia deve servir de exemplo
Um terremoto político abalou Atenas na semana passada. O ministro grego da Economia, Dimitri Papadimitriou, e sua mulher, Rania Antonopoulou, vice-ministra do Trabalho, perderam os cargos.
O casal deixou o governo de esquerda do Syriza por causa de um escândalo envolvendo auxílio-moradia. O jornal local Eleftheros Typos revelou que a vice-ministra recebia € 1.000 mensais (cerca de R$ 4.000) para alugar um apartamento em Kolonaki, bairro de alto padrão.
Até então, os já esvaziados cofres públicos haviam desembolsado € 23 mil em dois anos na conta dela. Segundo a imprensa grega, Dimitri e Rania formavam o mais rico casal do governo de Alexis Tsipras, o primeiro-ministro que tenta há três anos tirar a Grécia do buraco financeiro.
Rania Antonopoulou saiu primeiro. Pediu desculpas aos gregos e prometeu devolver o dinheiro recebido. Ato contínuo, o marido Dimitri Papadimitriou renunciou a um dos postos mais importantes de qualquer país.
Os jornais gregos destacaram que não havia ilegalidade no repasse do auxílio-moradia. O fato, porém, de o benefício ser pago a quem não precisa foi visto como insulto em um país debilitado economicamente, de média salarial de € 770 e com deputados ganhando ao menos sete vezes mais.
Por aqui, também graças ao trabalho da imprensa —no caso, desta Folha— soube-se que o milionário ministro Henrique Meirelles (Fazenda) recebeu R$ 7.100 de auxílio-moradia de 2016 até novembro do ano passado. Ele abriu mão após começar a ventilar candidatura ao Planalto.
Somente nos tribunais superiores 26 ministros ganham a ajuda mesmo tendo casa própria em Brasília.
Na sua coluna, Elio Gaspari contou que o STF pode dar um jeitinho para manter a benesse dos juízes: transformá-la em abono a ser abatido em reajustes salariais futuros.
A Grécia não tem sido na última década modelo de conduta econômica a ser seguido. Mas às vezes não custa mirar no exemplo de Atenas.
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