-O Estado de S.Paulo
Para 2018, um PIB mais encorpado está na conta. Difícil será manter o ritmo
Há pelo menos um consenso em relação ao crescimento do PIB de 1% no ano passado. É bom, mas é pouco. Mais do que uma nostalgia dos tempos de crescimento acelerado da economia brasileira, esse consenso expressa uma certa impaciência com a lentidão do processo atual de retomada. Afinal de contas, ao contrário do que muitos esperavam, foram quatro trimestres de taxas de expansão sucessivamente mais baixas – 1,3%, 0,6%, 0,2% e apenas 0,1%, sempre na comparação com o período anterior.
A pergunta do momento é uma só: dá para acelerar esse ritmo? Se ela se referir estritamente a 2018, a resposta é fácil. Segundo boa parte dos analistas, já estaria "contratada" uma expansão próxima de 3%. Para 2019 em diante, contudo, as respostas são bem menos assertivas. Até porque dependem – e muito – do que virá depois das eleições. É verdade que o cenário político começa a ficar um pouco menos nebuloso, ainda que permaneça a interrogação sobre a estratégia a ser adotada pelo PT, sem Lula na disputa. O PSOL já confirmou a candidatura de Guilherme Boulos. Nesta semana, o DEM deve pôr na mesa o nome do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. E, num lance pragmático, estaria em negociação a "renovação de votos" do casamento PSDB-MDB, com Henrique Meirelles na vice de Geraldo Alckmin, como revelou a colunista Eliane Cantanhêde. Mesmo assim, ainda leva algum tempo até que fique completo o painel de candidatos à Presidência e até que eles mostrem com clareza como pretendem conduzir a economia.
Enquanto incertezas políticas continuam no ar, vale examinar, no terreno da economia, como se comportarão os fatores que impulsionaram a atividade até o momento. Do ponto de vista das despesas, o grande motor em 2017 foi o consumo das famílias, sustentado pela queda da inflação, pelo alívio no crédito e principalmente pela liberação dos saques das contas inativas do FGTS – esse último item garantiu altas no consumo de 1,2% e 1,1% nos segundo e terceiro trimestres, e de 1% no fechamento do ano. E, do ponto de vista da produção, foi a agropecuária, com a supersafra, que permitiu um espetacular crescimento setorial de 13% e resultou em 0,7% de valor adicionado ao PIB de 1%. Os dois fatores terão a mesma força? Parece que não. Basta verificar, por exemplo, que a liberação dos saques de PIS-Pasep não produziu um repeteco do efeito FGTS no consumo. Quanto à agropecuária, por questões estatísticas, o número de 2018 deve até ser negativo.
Se não é por aí que o carro vai engatar uma nova marcha, por onde será? Pelo investimento, é a torcida geral. E é nesse ponto que os diagnósticos têm mais variações. Os números agregados mostram que já está em andamento uma volta do investimento. Tanto assim que, no último trimestre, o investimento cresceu 2% e conseguiu amenizar a queda do ano – para - 1,8%. Para o economista Nelson Marconi, da FGV, os resultados desagregados mostram, no entanto, um panorama menos favorável: a construção civil desabou 5%, a produção de bens de capital para fins industriais caiu 3,1%, enquanto a de equipamentos de transporte subiu 8% – e esse último item pode ser tomado mais como indicador de aumento da frota e da exportação do que de ampliação da capacidade industrial.
Vários analistas acreditam que a simples definição do cenário eleitoral pós-2018 funcionará como catalisador do investimento. Isso, bem entendido, se não houver risco de ruptura e se o sucessor manifestar a intenção de promover ajuste fiscal/reformas, mesmo com diferenças em relação ao governo Temer, Outros, mais céticos, acreditam que, mesmo com um quadro político "amigável", ainda demora para a retomada do investimento ganhar força. Na indústria, por exemplo, essa força só viria depois de esgotada a capacidade ociosa – que, segundo a FGV, ainda está perto de 25%. Sem contar que também será preciso dotar o País de uma indústria 4.0, pronta para atender às necessidades de inovação e produtividade.
A julgar pelas sondagens de investimentos e indicadores de confiança empresarial, as perspectivas são favoráveis, mas ainda há muitas empresas em compasso de espera. Com todas essas dúvidas, talvez a melhor pergunta não seja se dá para acelerar o crescimento. Mas se dá para manter um ritmo mais vigoroso e não apenas repetir um voo de galinha.
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