Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, disse ao Valor que o governo terá candidato próprio para presidente e que a reforma ministerial de abril será feita em função dessa candidatura. Ministros como Gilberto Kassab poderão indicar o sucessor, mas não "ficar com um pé aqui e outro em São Paulo" - ou seja, não poderá indicar o ministro e apoiar Geraldo Alckmin.
A iniciativa do Planalto foi a mais radical em uma semana em que líderes deram sinais de que podem se entender em torno de uma agenda básica para dar racionalidade às eleições. Sem deixar de lado suas diferenças, declarações recentes dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente Michel Temer indicam que os três podem tocar pela mesma partitura para isolar os extremos.
Reforma ministerial terá apoio a um candidato do governo como condição
Salvo fato novo da Operação Lava-Jato e seus satélites, a sucessão do presidente Michel Temer está voltando ao curso da política tradicional, quando faltam apenas seis meses para a eleição. Passado o Carnaval, os três maiores partidos - MDB, PT e PSDB - tentam retomar a iniciativa, isolar os radicais e lacrar de vez suas portas a cristãos novos ou outsiders da política. A novidade da Quaresma é a reforma ministerial condicionada ao apoio a um candidato que o governo promete lançar ao Planalto.
A recandidatura do presidente Temer, não reconhecida oficialmente, está camuflada na expressão "candidato do governo", usada pelo o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência). A outra novidade é que o PT não vai boicotar as eleições, se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não puder ser candidato. Palavra do próprio Lula em entrevista concedida ao jornal "Folha de S. Paulo" na quinta-feira.
"Quando chegar o momento certo, o PT pode discutir todas as alternativas. Eu sou contra boicotar as eleições", disse Lula, com a ressalva de que vai brigar até ganhar a candidatura.
Na entrevista que concedeu à jornalista Mônica Bergamo, o ex-presidente sepultou de vez a palavra de ordem "Eleição Sem Lula é Fraude", fez acenos de paz ao presidente Temer - segundo ele, vítima de duas tentativas de golpe do ex-procurador Rodrigo Janot - e ignorou solenemente o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), candidato da extrema direita, provavelmente pelo PSC.
Parecia combinado: Temer e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também assestaram suas baterias na direção do ex-capitão do Exército.
Sem Lula na cédula, Bolsonaro é o primeiro das pesquisas de opinião, mas está no mesmo patamar que atingiu no auge da crise do governo Temer, em maio. FHC duvidou que Bolsonaro tenha alguma ideia. O golpe de Temer foi mais direto: a intervenção na segurança do Rio de Janeiro - decisão avaliada, no QG de Lula, como um "golpe de mestre" - se tudo correr bem e der certo (Temer subir nas pesquisas), pode fazer o presidente ganhar condições efetivas de reivindicar a reeleição. Sem falar que o presidente pode replicar a intervenção em outros Estados que sofrem com a violência, especialmente na região Nordeste.
O tema da segurança era bandeira de Bolsonaro, mas também de Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados e pré-candidato do DEM ao Palácio do Planalto. Maia, além da bandeira da segurança, ficou também sem a reforma da Previdência, cuja tramitação usava de maneira a manter sob rédea curta o Palácio do Planalto. Já Temer livrou-se de uma reforma moribunda e impopular. Nesse sentido também perdeu o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que esperava pela proposta da Previdência para fazer sua própria negociação com o governo.
Temer não assume a candidatura à reeleição, o que o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) faz questão de afirmar com todas as letras: "O governo terá um candidato". Quem? O nome do ministro Henrique Meirelles (Fazenda) está na lista - ele é uma espécie de guarda-chuva que garante credibilidade à política econômica. Outro citado é Rodrigo Maia. E pode até ser Geraldo Alckmin (PSDB), o que considera mais difícil. Segundo Moreira Franco, será alguém com liderança pessoal para "unir os partidos". Para bom entendedor meia palavra basta.
O ministro confirma que as mudanças ministeriais de abril serão condicionadas ao apoio partidário à candidatura palaciana. Em resumo, só fica no governo o partido que jurar lealdade ao candidato do Planalto. As tratativas estão sob a responsabilidade do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil). Procurado, Padilha não respondeu ao Valor. Há pelo menos quatro partidos da base aliada de Temer já pré-comprometidos, nos bastidores, com outros candidatos - PSD, PP, DEM e Solidariedade.
O PSD já fechou um acordo com o prefeito João Doria para a disputa do governo estadual - nacionalmente, o partido ficará com Geraldo Alckmin. É o exemplo perfeito do que Moreira afirma que não será tolerado: "Não pode ter um pé em São Paulo e outro aqui", diz. Ocorre que o DEM deve lançar a pré-candidatura de Maia, embora também esteja em fase avançada de discussão com Alckmin, a exemplo do PP e do Solidariedade.
Depois de praticamente "fechar" São Paulo, Alckmin deve se dedicar à unificação nacional do PSDB. O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, desistiu de disputar prévias com o governador, não sem antes criticá-lo duramente. E o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso parece finalmente ter desistido de encontrar um nome de fora da política para disputar pelo PSDB e reconhecido, por fim, que Alckmin pode ser o candidato do PSDB.
FHC, no entanto, tratou de chamar o candidato e o partido às falas: não é o mercado que vai ganhar a eleição. "O país não é composto de mercado só. Quem for o candidato de mercado vai perder [as eleições]", disse Fernando Henrique durante o primeiro evento da série "A Reconstrução do Brasil" do Fórum Estadão, realizado na terça-feira. Dias antes, Alckmin havia anunciado o economista Persio Arida como coordenador de seu programa de governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário