- Folha de S. Paulo
Desvalorização do real é quase nada e pode render uns trocados para o país
Sempre convém prestar atenção às corridinhas do dólar, ainda mais quando a moeda brasileira se desvaloriza um tanto mais que suas primas no mercado mundial. Mas, por ora, não se passou nada de dramático com a taxa de câmbio no Brasil. Na verdade, não aconteceu fundamentalmente nada.
Desde meados de março, quando algo começou a se mover, o dólar ficou uns 6% mais caro. Então apareceram as notícias de que a moeda americana não estava a esse preço desde tal ou qual mês de 2016, como de costume.
Variações em um ou três meses, afora no caso de choques e crises operísticas, não dizem lá grande coisa. Olhando um pouco mais longe do que isso, importa observar o que aconteceu com as taxas reais de câmbio. O real estava até forte demais, consideradas a história dos últimos anos ou a taxa de juros.
A taxa real de câmbio pode ser medida de várias maneiras, mas nessa conta podem entrar as diferenças de inflação entre o Brasil e o resto do mundo; as diferenças de variação de salários e produtividade.
Compara-se, grosso modo, quanto variou o custo de vida aqui em relação a um outro país ou ao resto do mundo relevante (isto é, países que são parceiros comerciais importantes do Brasil).
Em várias medidas, a taxa de câmbio real voltou mais ou menos para onde estava em meados de 2016. E daí?
Eram os tempos do impeachment de Dilma Rousseff, de "dólar nervoso", mas o real já devolvia a desvalorização mais forte que ocorrera em setembro de 2015, quando se notou de vez que o governo estava muito quebrado, entre outros problemas. Mas o real estava desvalorizado demais? Em relação ao quê?
Nos anos Dilma Rousseff, o real se valorizou, e os custos de produção (inflação) subiam. Dizia-se em lojas, empresas, ruas e construções que o "Brasil estava caro, que era uma nova temporada de "Bolsa Miami". Em meados de 2011, o dólar custava por volta de R$ 1,60.
A taxa de câmbio real baixou a níveis recordes desde o Plano Real sob Dilma 1. A valorização da moeda brasileira e, enfim, alta de custos contribuíram para que o consumo doméstico "vazasse", fosse alimentado por importações mais baratas, o que transpareceu no aumento do déficit externo (em conta corrente). A pasmaceira da indústria, que depois seria tombo calamitoso, começou aí, embora não apenas por esse motivo.
A taxa de câmbio real apenas volta agora ao nível de saída do exagero dos anos Dilma, se é que vai ficar mesmo por aí, R$ 3,45.
Não se trata aqui de defesa de uma taxa de câmbio em tal ou qual nível, necessariamente. É apenas história.
Considerando o estado ainda quase deprimido da atividade econômica e a queda da taxa de juros, uma desvalorização do real até seria esperada, se o câmbio não fosse tão sujeito a outras mumunhas da finança.
Caso o dólar desembeste, encareça rapidamente, pode haver alguns problemas (um tanto mais de inflação), embora o governo do Brasil tenha reservas enormes, o setor privado tenha hoje ativos relevantes no exterior e os preços estejam sob controle por aqui.
Nos últimos dias, o dólar se fortalece em relação a várias moedas, embora o real ainda se desvalorize mais, desde março, do que moedas de países que costumam se molhar do mesmo modo quando chove lá fora, na finança mundial. Mas, por enquanto, não aconteceu nada.
Um real desvalorizado, de resto, pode nos render uns trocados extras, que valerão alguma coisa nesta pindaíba.
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