O clima morno e a falta de propostas marcaram o primeiro debate entre oito candidatos à Presidência, realizado pela TV Bandeirantes. Questões de economia e os temas de alianças políticas e de corrupção estiveram entre os mais presentes até o fechamento desta edição. Assuntos ligados às mulheres, como aborto e feminicídio, também foram abordados. Sem bate-boca, os presidenciáveis optaram pela estratégia de expor fragilidades do adversário. Além de explorar possíveis desvios éticos, as relações com o governo de Michel Temer estiveram em pauta nas perguntas que os candidatos dirigiam a seus adversários. Geraldo Alckmin, do PSDB, foi o mais requisitado a responder a questionamentos. Ele foi interpelado pela aliança com o centrão e pelas medidas econômicas do atual governo. O candidato do PSOL, Guilherme Boulos, disse que o debate tinha “50 tons de Temer”, ironizando o fato de vários candidatos serem de partidos que votaram a favor de propostas do presidente no Congresso. “A reforma trabalhista foi um avanço. Tínhamos um grande cartório com 17 mil sindicatos no Brasil”, disse Alckmin. Em paralelo, o PT promoveu uma transmissão nas redes sociais, com a participação do candidato do partido a vice, Fernando Haddad, em que foi lida uma carta do ex-presidente Lula, impedido pela Justiça de participar do debate na TV por estar preso em Curitiba.
CLIMA MORNO
Debate presidencial com poucas propostas
Mesmo em quarto lugar, Geraldo Alckmin foi o mais questionado
Marco Grillo, Fernanda Krakovics e Miguel Caballero | O Globo
No primeiro debate entre os presidenciáveis nesta campanha eleitoral, ontem, na TV Bandeirantes, que levou oito candidatos ao embate, a discussão sobre alianças e economia teve mais destaque. O encontro ficou marcado pelos ataques mútuos e pela apresentação de propostas pouco aprofundadas. Como estratégia eleitoral, os adversários optaram pela busca de fragilidades, em vez de detalhar as ações. Supostos desvios éticos foram apontados, assim como alianças partidárias e as relações com o governo Temer.
O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, quarto colocado nas pesquisas, que tem o maior leque de alianças, foi o mais questionado, até a conclusão desta edição. Foi confrontado a respeito da coligação com o centrão, sobre medidas econômicas do atual governo (de quem o PSDB foi aliado) e sobre o Bolsa Família. O candidato do MDB, Henrique Meirelles, lembrou que os tucanos já chamaram o programa de Bolsa Esmola. Cabo Daciolo (Patriota) e Jair Bolsonaro (PSL), em uma dobradinha clara, também fizeram críticas duras ao tucano. Já Ciro Gomes (PDT), em terceiro lugar nas pesquisas, quase não foi alvo de perguntas.
Quando participou dos embates, Ciro tentou ligar o presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, ao governo de Michel Temer. O pedetista lembrou que o PSDB apoiou a reforma trabalhista, que, segundo ele, teria agravado “terrivelmente” a situação do povo brasileiro e também perguntou se o tucano pretende mantê-la. Alckmin respondeu ser a favor da reforma. Ressalvou que a permissão para que mulheres grávidas trabalhem em locais insalubres precisa ser revista.
— A reforma trabalhista foi um avanço. Tínhamos era um grande cartório, com 17 mil sindicatos no Brasil, mantidos com imposto sindical. A maioria não fez nem convenção coletiva — disse o candidato do PSDB, que chegou a usar o termo “Bolsa Banqueiro”, utilizado por Guilherme Boulos (PSOL), ao responder a um questionamento de Meirelles sobre o Bolsa Família.
—Vamos ampliar o Bolsa Família, vamos usar o dinheiro do Bolsa Banqueiro.
Marina também buscou a polarização com Alckmin ao associá-lo ao centrão, grupo de partidos que se aliou ao PSDB. Segundo ela, alguns representantes dessas legendas têm “assaltado o povo”. Alckmin creditou o acordo à necessidade de ter uma ampla coalizão para aprovar as reformas previdenciária, política e tributária logo no início de um eventual governo. O ex-governador de São Paulo aproveitou para alfinetar Marina, ao recordar que ela saiu do PV, após a eleição de 2010. Disse que a situação com o partido era “incompatível”, embora para esta eleição tenha feito uma aliança com a mesma legenda.
Sobre a reforma da Previdência, Alckmin defendeu a equalização dos sistemas público e privado, para acabar com “sistema injusto”. Já Ciro propôs um novo modelo de capitalização aposentadoria todos os trabalhadores, e criticou de 65 anos a proposta que prevê a idade mínima de com para o argumento idade elevada de para que quem seria exerce uma atividade no meio rural.
O principal ataque entre os candidatos ocorreu no primeiro bloco. Boulos questionou Bolsonaro sobre o fato de ele ter recebido auxílio-moradia, mesmo sendo proprietário de imóvel em Brasília, e acusou o adversário de empregar uma funcionária fantasma no gabinete da Câmara, que seria responsável por “cuidar dos cachorros” que o presidenciável teria em uma casa em Angra dos Reis (RJ).
— O Bolsonaro é a velha política corrupta. Recebeu auxílio-moradia, aprovou dois projetos e conseguiu comprar cinco imóveis. Não tem vergonha? — perguntou Boulos.
O deputado retrucou e lembrou PSOL Sem Teto é líder que (MTST). do o candidato Movimento do — A Val é uma funcionária minha que mora em Angra. Ela não é fantasma, estava de férias (quando uma reportagem da“Folha de S. Paulo" tratou do assunto). Eu teria vergonhas e tivesse invadindo casados outros. Não vi maqui par abater boca comum cidadão desqualificado como esse aí. A crise venezuelana também foi tem a. Meirellese Alvar o Dias criticaram o governo do país vizinho, mas garantiram apoio humanitário. — Temos que agir para que a situação mude. Mas, até lá, o Brasil tem que continuar com a postura humanitária—disse Meirelles. Dias seguiu o mesmo tom: —Seria perverso expulsar seres humanos vítimas de uma ditadura perversa, incapaz de respeitar liberdades democráticas.
No primeiro encontro, amor ódio e pregação
Presidenciáveis testam seus estilos com declarações ácidas, provocações, ironias e até discursos religiosos; em atitude poucos comum em debates, houve até quem escolheu abrir mão de seu tempo de discurso
Com oito participantes, o debate da TV Bandeirantes apresentou ao grande público doses do estilo de cada presidenciável. De cabo a capitão, de médico a economista, eles disseram o que pensam — do jeito que bem entenderam.
Assim, telespectadores ouviram que o grande problema da sociedade brasileira é a “falta de amor”. A pregação é do deputado federal Cabo Daciolo, do Patriota.
Já Guilherme Boulos, do PSOL, atacou diretamente o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, logo no primeiro bloco, o chamando de “racista, machista e homofóbico”. Depois, falou que ali estavam presentes “50 tons de Temer”, em referência a exaliados do presidente.
Após responder sobre uma funcionária sua suspeita de ser fantasma, Bolsonaro tomou uma atitude rara em debates eleitorais —ainda mais para quem terá poucos segundos de propaganda na televisão. Ele disse que não iria “bater boca com um cidadão desqualificado” e devolveu a palavra ao mediador, o jornalista Ricardo Boechat, muito antes do tempo regulamentar.
Ciro Gomes, do PDT, mais calmo do que em outras aparições, foi menos escolhido, mas, quando falou, deixou logo claro como quer se distanciar do governo do presidente Michel Temer, chamando a reforma trabalhista de “selvageria”.
Ex-ministro de Temer, Henrique Meirelles(MDB) cumpriu o seus cript. Confrontado sobre a ligação com o atual governo, afirmava sempre ser o “candidato do emprego, da renda e do crescimento”.
Marina Silva (Rede) atacou o teto de gastos, medida que é marca de Meirelles.
Geraldo Alckmin, do PSDB, repetiu o mantra “emprego e renda”, defendendo a reforma trabalhista, e Álvaro Dias (Podemos) anunciou diversas vezes seu convite ao juiz Sérgio Moro para ser ministro, mesmo sem resposta.
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