O
samba-canção não falava só de relações fracassados; nele o amor também podia
dar certo
Outro
dia (21/3), escrevendo sobre Antonio
Maria, falei de duas injustas acusações ao samba-canção: a de ser o
"bolero brasileiro" e não passar de uma "pré-bossa nova".
Outra ofensa é chamá-lo de "música de fossa". Sim, muitos
sambas-canção falam de amores fracassados, mas isso não será uma condição da
música romântica? É só conferir as letras de "Night and Day", de Cole
Porter, "Star Dust", de Hoagy Carmichael e Mitchell Parish, e
"One For My Baby", de Harold Arlen e Johnny Mercer, tecnicamente
músicas "de fossa". E o que dizer dos blues?
Mas o samba-canção tinha também músicas leves e arejadas, autênticas celebrações da vida e do amor. Duvida? "Copacabana", "Somos Dois" e "Uma Loura", com Dick Farney, "Sábado em Copacabana", com Lucio Alves, "O que É Amar", de e com Johnny Alf, "O Amor e a Rosa" e "Meiga Presença", com Elizeth Cardoso, "Dó-ré-mi", com Doris Monteiro.
Nos
sambas-canção de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, a ênfase no lado positivo das
relações já começava pelo título: "O Que Tinha de Ser", "Eu Sei
Que Vou Te Amar", "Se Todos Fossem Iguais a Você". E Dolores
Duran, que era tudo, menos "de fossa", cantou a alegria em
"Carioca 1954" e "Manias" e fez, com Tom, "Estrada do
Sol" ("É de manhã/ Vem o sol e os pingos da chuva que ontem caiu/
Ainda estão a brilhar/ Ainda estão a dançar...").
O
sol, aliás, nasceu muito mais no samba-canção do que se pensa: vide "Domingo
Azul do Mar" ("Quando eu vi o seu olhar/ Sorrindo para mim/ Neste
domingo/ Domingo azul do mar..."), de Newton Mendonça e Tom, com Geni
Martins; "Canção da Manhã Feliz" ("Luminosa manhã/ Pra que tanta
luz?/ Dá-me um pouco de céu/ Mas não tanta luz..."), de Haroldo Barbosa e
Luiz Reis, com Miltinho; e "Manhã de Carnaval" ("Manhã/ Tão
bonita manhã..."), de Luiz Bonfá e Antonio Maria, com Agostinho dos
Santos.
A grande música dispensa rótulos. Só precisa de um ouvinte.
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