Sem o PT, pode
não chegar ao segundo turno, só o PT, pode não ganhar no segundo
Nesta semana, a
reforma ministerial mostrou que Bolsonaro já está trabalhando para o
pós-segundo turno, enquanto os líderes e partidos de oposição continuam no
pré-primeiro. Com o novo Ministro da Defesa, ele deseja controlar as Forças
Armadas; com o novo Ministro da Justiça busca o controle sobre as polícias
estaduais; com a liberação da compra e porte de armas, equipa sua milícia
paralela. Com Forças Armadas, polícias e milícias, Bolsonaro passa a ter forças
armadas nas ruas, para contestar derrota por pequena margem de eleitores, caso
não consiga argumento para contestar o resultado na Justiça Eleitoral.
Enquanto isto, as oposições continuam divididas entre os possíveis candidatos que depois disputarão entre eles qual vai ao segundo turno. Estes embates deixam marcas que poderão levar outra vez a abstenções e votos nulos no segundo turno, como aconteceu em 2018. Difícil imaginar os eleitores do PT votando em Ciro ou outro candidato, e eleitores do Ciro e de outros candidatos votando no Lula ou outro do PT, salvo se fosse construída uma aliança ampla de todos desde o primeiro turno.
Felizmente, tudo
indica que o exército não está aceitando o papel de milícia do Bolsonaro, e
alguns dos candidatos pela oposição assinaram um manifesto conjunto em defesa
da democracia. Mas todos que percebem as consequências da reeleição do atual
governo sobre o futuro do Brasil, deveriam se encontrar em um debate franco
sobre qual deles tem mais chance de vencer a eleição; também quais as
qualidades, erros e méritos que se reconhecem; em que princípios estariam
unidos no governo seguinte. Esta reunião poderia ter a participação de
entidades da sociedade civil, como ocorreu em momentos decisivos da história.
Poderia inclusive ser presidida por uma ou mais destas entidades.
Pena que a
política é mais dominada pela arrogância do otimismo do que pela consciência
dos riscos. Cada candidato já se considera com um pé no segundo turno, e tem
confiança que unirá os eleitores dos que ficaram para trás. Imaginaram isto em
2018, mas nem a boa qualidade do candidato do PT foi suficiente para evitar a
rejeição que o partido tinha. Pode ser diferente agora, se o candidato for Lula
e o PT tiver rejeição menor, sobretudo depois da anulação Lava Jato de
Curitiba; ainda mais com o reconhecimento oficial de que houve parcialidade do
juiz contra Lula. Mesmo assim, não é claro se ele e o PT teriam menos rejeição.
É possível que mesmo sabendo o que Bolsonaro representa, muitos eleitores
ficarão em casa, ou viajarão para não votar, ou votarão nulo, induzidos pela
ideia divulgada pela própria oposição, de “nem Bolsonaro, nem PT”. Possível
também que eleitores do PT façam agora o que foi feito com Haddad em 2018,
anulando o voto e se abstendo.
Estes líderes
precisam entender que, divididos, dificilmente qualquer deles tomará o lugar do
candidato do PT, mas o PT deve entender que, solitário, dificilmente ganhará no
segundo turno se não tiver o apoio dos outros candidatos e partidos. Sem o PT,
pode não chegar ao segundo turno, só o PT, pode não ganhar no segundo.
Os candidatos e
líderes de partidos que se opõem à estratégia da reeleição de Bolsonaro têm
diante deles a imensa responsabilidade de não falharem por arrogância, por
vaidade, preconceito. Não podem neste momento colocar seus partidos e suas
propostas na frente do interesse maior da democracia e do futuro do país. É
preciso unidade com um candidato de baixa rejeição que leve a uma vitória
expressiva, cale os fanáticos e desarme as milícias, oficiais ou não.
*Cristovam Buarque foi senador, governador e ministro
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