Militares
não repudiam o que há de mais criminoso contra o Estado democrático
O
primeiro ato do general Braga Netto como ministro da Defesa foi de obediência a
Bolsonaro e de confronto
com a inquietação deflagrada nos altos comandos do Exército, da
Marinha e da Força Aérea.
Braga
Netto frustrou o ato, muito simbólico, dos comandantes das três Forças:
antecipou-se, demitindo-os, à entrega dos seus cargos em resposta à exoneração
do general Fernando Azevedo e Silva, até então ministro da Defesa.
Mas
as exonerações em questão eram outras. A insatisfação de Bolsonaro com a falta
de pronunciamentos políticos do general Azevedo, para fortalecê-lo em seu
isolamento crescente, concentrou
as explicações para a turbulência.
Esses
raciocínios, muito defensáveis, embalaram-se até à função das Forças Armadas e
sua relação com governos e política. Por isso, soterraram uma causa primordial
para a mexida de Bolsonaro na Defesa e a perigosamente importante nomeação do
delegado Anderson Torres para ministro da Justiça.
Um
dos personagens mais relevantes no problema entre Bolsonaro e o Exército ficou
citado apenas como um dos ministros substituídos. Ministro da Saúde ideal para
Bolsonaro, pela dócil obediência e, sobretudo, pela tolerância aos efeitos
letais de que foi agente, para
o Exército o general Pazuello veio a ser um problema.
O
comandante do Exército, Edson Pujol, não absorveu os problemas representados
pelo general da Saúde e da mortandade. Para Bolsonaro, a saída necessária não
era a de Pazuello. Passava
a ser de Pujol. Fora de cogitação, no entanto, para o ministro Azevedo.
Nem
com um cargo prestigioso nas Forças Armadas, para compensar a obediência de
Pazuello, Bolsonaro contava obter do general Pujol, considerando que também as
pressões externas contra o Ministério da Saúde chegavam à saturação. Se é
assim, vai-se Pazuello, mas com ele vão Azevedo e Pujol.
Braga
Netto promete, desde o primeiro ato. Mas esquentou o clima, e nem no plano
interno há alguma clareza sobre o que surgirá depois da fumaça.As atenções
deslocaram-se para o general
Paulo Sérgio Oliveira, sucessor de Edson Pujol.
Muitos
atribuem especial sentido à nomeação, por serem contrárias ao cloroquínico
Bolsonaro todas as suas bem sucedidas providências antipandemia no Exército.
Vai ver, foi elevado a novo cargo para não dar mais entrevistas sobre a
eficácia de máscaras, distanciamentos e ficar em casa.
Ou
foi escolha de Braga Netto, pela eficiência sem lado.Deduzir desse entrevero todo,
como tantos comentaristas e cientistas políticos (mais isso, menos aquilo), que
“os militares têm consciência de que servem ao Estado e não ao governo”, e
outras tiradas oníricas, vai toda a distância a que estamos da segurança
institucional e democrática.
Enquanto
faltar a coragem moral de reconhecer que antecessores seus cometeram crimes
bárbaros e estrangularam as liberdades e demais direitos universais, os
militares não estarão a serviço legítimo da sua função de Estado. Porque não
repudiam o que há de mais criminoso contra os princípios da vida em comum e do
Estado democrático.
Em
sendo assim, pode-se até concluir que chamados de militares são uma classe de
servidores armados e fardados, com privilégios que os distinguem, praticantes
de política e intervencionismo por métodos próprios e proporcionados pelas
armas.
Militares
propriamente ditos, militares autênticos, no entanto, são profissionais
apartidários em ideologia e em política, armados pela sociedade para, em seu
nome, servir ao Estado e à nação. O
Brasil ainda não conheceu essa classe.
OS
INTERESSADOS
Seis
pretendentes a candidatos à Presidência — Henrique Mandetta, Ciro Gomes, João
Doria, Eduardo Leite, João Amoêdo e ainda Luciano Huck — assinaram
uma carta pública apresentando-se como defensores da democracia.
Defendê-la
é muito oportuno. Contudo, no caso cabem ressalvas. Qualquer político pode
defender a democracia. Nenhum, porém, que
tenha apoiado a eleição de Bolsonaro, ainda que de modo indireto, tem condições
morais de fazê-lo.
Todos
sabiam quem era Bolsonaro, conheciam suas defesas da ditadura, da tortura,
sua louvação na Câmara ao criminoso coronel Ustra. Era a democracia que estava
em jogo na eleição, e todos os políticos sabiam disso.
Para defendê-la, nem precisavam superar sua ojeriza ao PT, havia outros candidatos democratas. Os que apoiaram Bolsonaro quiseram Bolsonaro. Defendam a democracia, que sabemos não o fazerem por ela.
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