- Folha de S. Paulo
É difícil desarmar as duas partes e
aproximar as narrativas
Já acreditei que o processo de paz
entre israelenses e
palestinos baseado na ideia de dois Estados teria sucesso. A
ducha de água fria não foram as negociações frustradas de Camp David (2000) ou
Annapolis (2007), mas a leitura de "The Two-State Delusion" (a ilusão
dos dois Estados, de 2015), de Padraig O'Malley.
Uma nota biográfica é necessária. O'Malley é um especialista em negociações de paz. Ele não só estuda conflitos que um dia pareceram insolúveis como ajuda a encontrar uma saída para eles. Participou dos processos de pacificação na Irlanda do Norte e na África do Sul. Depois, se debruçou sobre o conflito israelo-palestino —e foi derrotado por ele. As conclusões a que chegou estão no livro, que é bem lúgubre.
O ponto central de O'Malley é que as
narrativas israelense e palestina são inconciliáveis. Ambos os lados se veem
como vítimas em um embate imemorial e não admitem que outros possam ter uma
visão diferente, a menos que estejam mal-intencionados. Pior, o conflito virou
um modo de vida para lideranças locais e uma espécie de vício para as
populações.
Uma ilustração banal e significativa disso
ocorreu quando respeitados educadores israelenses e palestinos tentaram
elaborar um livro didático de história que pudesse ser usado nas escolas dos
dois lados. Não conseguiram. Não havia como desarmar e aproximar as narrativas.
Penso que situação até piorou de 2015 para
cá. Até alguns anos atrás, a paz ao menos era um tema importante em pleitos
israelenses, dividindo o eleitorado. Não é mais. Os israelenses simplesmente
deixaram o assunto de lado. E não só os israelenses. Vários países da região
também abandonaram a ideia de unidade árabe e o apoio à causa palestina para
firmar acordos de cooperação com Israel.
Não digo que seja impossível mesmo no futuro distante, mas ninguém jamais perdeu dinheiro por apostar contra ela no conflito israelo-palestino.
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