Há
indícios de novo repique da Covid em SP, como em outubro, dezembro e fevereiro
O tsunami de 2004 matou 228 mil pessoas em países banhados pelo Oceano Índico. Desde então, nos acostumamos a ouvir que, depois de um sismo submarino, foi dado um alerta de tsunami. Em geral, nada mais triste se passa. Um dia, porém, acontece algo como Fukushima, quando as ondas gigantes acabaram por causar 18 mil mortes.
O
estado de São Paulo deveria dar um alerta de tsunami na epidemia de Covid. Pode
ser que nada ainda pior aconteça, mas há sinais preocupantes nos últimos dez
dias, por aí.
Nos
dados dos cientistas do Observatório Covid-19 Brasil, já era possível notar
uma variação
preocupante desde 2 de maio. O “nowcasting”, a “previsão
instantânea” desde então apontava uma alta de casos graves de SRAG semanais. A
informação mais recente deles é de 9 de maio.
O número de novos casos notificados aumenta desde 8 de maio, pelos dados publicados pelo Seade, o “IBGE paulista”. Por si só, não é um bom indicador. Mas o número de novas internações em UTIs dos hospitais estaduais aumenta desde 9 de maio. A média de internados em terapia intensiva praticamente parara de despiorar fazia uma semana e começou a subir desde domingo. O número de mortes voltou a crescer desde sábado.
Pela
fria estatística e seus testes, ainda não é possível cravar que algo de
significativo esteja ocorrendo. No entanto, desde setembro vimos três ondas
horríveis de doença e morte começarem do mesmo modo, três repiques, três
tsunamis, que acabaram em nova montanha
de cadáveres.
Depois
de despioras, a epidemia voltou a acelerar por volta de 20 de outubro, em 28 de
dezembro e em 15 de fevereiro deste 2021. Não é uma lei, não é um ciclo
necessário, não é destino. É um alerta. Pode ser um alarme falso de horror
ainda maior, mas é preciso enfatizar a palavra “MAIOR”.
A
epidemia ainda é pior do que qualquer coisa que vimos de fevereiro de 2020 até
meados de março de 2021, em termos de morte e circulação do vírus (em número
absoluto de infectados). Perde apenas para o morticínio de fins de março e
abril.
Nesta
terça-feira (18), havia 10.159 internados nas UTIs dos hospitais estaduais
(9.994, na média móvel de sete dias), maior que qualquer número até 15 de março
deste ano. A média de mortes era de 492 por dia, número que não se viu na
epidemia paulista de seu início até 19 de março. Pelos dados de mortes,
internações em UTIs e casos confirmados, a epidemia está mais letal como nunca
(afora março de abril): em resumo, mata relativamente mais doentes do que
antes.
Há
sinais bem preocupantes em especial no interior, nos departamentos regionais de
saúde de Piracicaba, Presidente Prudente, Registro e Sorocaba. Na cidade de São
Paulo ainda há despiora ligeira, quase estabilidade.
Todos
esses dados quase nada têm a ver com o que pode ter acontecido no dia das Mães,
ocasião para muita reunião imprudente. Mais um motivo de preocupação.
O
que pode ser diferente desta vez? Para começar, podemos tentar evitar o repique
dando o alerta de tsunami. Sendo desesperadamente otimista, pode ser também que
o aumento do número de vacinados e de infectados, talvez mais protegidos,
impeça um repique tão violento como o do horror que vimos em março. O inquérito
sorológico da cidade de São Paulo realizado em torno do dia 27 de abril estima
que 33,5% dos moradores da cidade já foi infectada (em 16 de fevereiro, eram
25%).
Mas isso é especulação: a depender da nossa atitude quanto a máscaras, distanciamento e higiene, pode ser pior. Diante do desconhecido talvez terrível, é preciso que os governos lancem um alerta geral, em tom muito grave.
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