Por
enquanto, bancos centrais de países desenvolvidos estão mantendo o sangue frio
A
inflação deu um salto tão forte em vários países em abril, pressionada pela
alta nos preços de matérias-primas e de produtos que enfrentam gargalos na
oferta, que muitos analistas já esperam que o índice de preços ao consumidor
(CPI, na sigla em inglês) global atinja neste ano seu maior nível desde 2011,
quando subiu 3,9%.
O
ritmo de aceleração dos preços nos Estados Unidos, por exemplo, reduziu para níveis atípicos o
diferencial da inflação com
o Brasil. O CPI americano subiu de 2,6% em março para 4,2% em
abril, na taxa acumulada em 12 meses, enquanto o índice oficial no Brasil –
o IPCA – passou de uma alta anual de 6,1% em março para
6,76% em abril. O diferencial de inflação americana e brasileira caiu de 3,5
pontos porcentuais em março para apenas 2,56 pontos em abril.
Vários
países – desenvolvidos ou emergentes – estão enfrentando fenômenos semelhantes
de pressão da inflação: a alta nas cotações das commodities,
por conta da maior demanda da China por minério de ferro e soja,
por exemplo, elevou o preço da alimentação e de outros itens influenciados por
matérias-primas mais caras.
Outro fator em comum foi a pandemia do coronavírus, que provocou a escassez de muitos bens em razão de a cadeia de produção global ter sido seriamente afetada por restrições de mobilidade social e também pela contaminação da força de trabalho. Está faltando estoques de vários produtos no mundo.
Em
2020, aliás, a paralisação da economia mundial após a adoção das duras medidas
de confinamento em quase todo o planeta levou a uma queda brusca nos preços de
serviços, o setor mais afetado pelas restrições de mobilidade social. Tanto
assim que a inflação global foi estimada em apenas 1,1% no ano passado. Diante
dessa base mais deprimida, há até o efeito estatístico da volta da inflação com
maior ímpeto ao redor do mundo.
Mas
no momento em que as cotações das principais commodities ainda estão bastante
elevadas, acabando por contaminar a inflação ao consumidor, a reabertura das
economias deve puxar novamente os preços de serviços.
Na
zona do euro, com a vacinação contra covid finalmente ganhando ritmo, muitos
países relaxaram as regras de confinamento, possibilitando não somente o
funcionamento de bares, restaurantes, comércio e museus, como também afrouxaram
restrições de viagens e permitiram a volta do turismo. Na zona do euro, a taxa
anual do CPI subiu de 1,3% em março para 1,6% em abril, quando parte das
medidas de confinamento social ainda estava em vigor.
Se
a inflação em abril nos países desenvolvidos assustou os investidores, é muito
provável que o seu pico possa acontecer ao longo deste segundo trimestre ou
ainda no terceiro trimestre.
Em
outros países emergentes, além do Brasil, a situação também preocupa. No México,
o índice de preços ao consumidor saltou de 4,67% em março para 6,08% em abril,
na taxa anual, enquanto a meta do banco central mexicano é de uma taxa de 3%.
A
grande questão agora é se a aceleração da inflação é decorrente de fatores
cíclicos ou se há uma mudança mais estrutural no patamar de preços. No caso dos
EUA, quando se observa a projeção de inflação do Federal
Reserve (Fed, o banco central americano) para 2022, a resposta
é que há apenas uma pressão cíclica sobre a inflação. O BC americano, conforme
as suas mais recentes projeções oficiais, feitas em março, prevê uma inflação
de 2,4% neste ano e de 2,0% em 2022.
No
Brasil, as projeções contidas na última pesquisa Focus, do BC,
apontam um IPCA de 5,15% neste ano e de 3,64% em 2022. É bom lembrar
que, não raro, os analistas brasileiros erram nas suas projeções de inflação.
No fim do ano passado, a projeção para a inflação deste ano era de apenas
3,22%.
Por
enquanto, o Fed e outros bancos centrais de países desenvolvidos estão mantendo
o sangue frio quanto à redução dos estímulos monetários adotados durante a
pandemia em meio a uma aceleração mais forte da inflação. O mantra do Fed tem
sido de que esse repique inflacionário é transitório.
Mas a manutenção de preços elevados de matérias-primas e o maior reajuste nos preços de serviços, com a reabertura das economias, podem fazer com que o pico da inflação se prolongue por mais tempo que o desejado.
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