Se
adotar a estratégia do silêncio ou das meias-palavras na CPI da Covid,
o general Eduardo Pazuello passará a bola, inevitavelmente, para o
presidente Jair Bolsonaro. O gesto do ex-ministro da Saúde de não
colaborar com a comissão e não falar pode ser interpretado, sob certo ângulo,
também como postura de alguém que rejeita defender o presidente. Nesse caso, o
oficial da ativa se comportará em benefício de sua própria sobrevivência e não
em prol de um governo.
É uma mensagem que o próprio general e toda a equipe de estrategistas do Planalto não conseguem controlar. Toda vez que deixar uma pergunta sem resposta e selecionar o que pretende rebater, Pazuello demonstrará que não tem nada a falar, pois, como deixou claro, algumas vezes apenas cumpriu ordens. Logo, quem tem de prestar contas aos senadores e ao País é seu ex-chefe no governo e atual chefe militar, o presidente da República.
O
governo atuou oficialmente para garantir o silêncio de Pazuello. A pedido
da Advocacia-Geral da União, o Supremo concedeu habeas corpus
para o general não responder a perguntas que possam levantar provas contra ele.
Em suma, Pazuello não sairá preso do Senado.
Se
optar mesmo por não falar, o general forçará a lembrança de uma frase decisiva
que disse em outubro. Numa “live” ao lado de Bolsonaro, ele foi direto ao
ponto: “É simples assim: um manda e o outro obedece”. Era uma reação à atitude
do presidente de desautorizá-lo ao mandar cancelar a compra de doses da
Coronavac. A frase, que entrou para o anedotário, é o que pode agora salvar o
general. Ele tem um álibi: o presidente.
A estratégia do silêncio pode trazer consequências históricas também para a caserna. Por ser um general da ativa, Pazuello pregará nas Forças Armadas a imagem de uma instituição que não tinha resposta, no calor da hora, à denúncia grave de ter colaborado para uma política desastrosa de governo no combate à doença. Até a noite de ontem, o vírus tinha matado 439.379 brasileiros.
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