- O Globo
A CPI da Covid produziu uma mutação nos
bolsonaristas. Diante dos senadores e das câmeras de TV, os defensores do
capitão perdem subitamente a valentia. Passam a falar baixo, renegam suas
bravatas e fingem esquecer o que já disseram.
Na semana passada, o fenômeno ocorreu com
Fabio Wajngarten. Conhecido pela agressividade nas redes sociais, o publicitário
afinou ao usar o microfone. Adotou um tom humilde, quase servil, para tentar
escapar ileso do depoimento.
O ex-secretário de Comunicação se disse
vítima de “boatos maldosos” sobre a intermediação da compra de vacinas. No
entanto, perdeu a memória ao ser questionado sobre um termo usado pelo
ex-ministro Eduardo Pazuello. “Não sei nem o que significa pixulé”,
desconversou. “Melhor assim, não é?”, ironizou o senador Renan Calheiros.
Ontem a foi a vez de Ernesto Araújo sofrer
um surto de amnésia. Pivô de múltiplas crises com a China, o ex-chanceler jurou
que nunca criou atritos com Pequim. Renegou até o artigo em que se referiu ao
coronavírus como “comunavírus”, endossando a teoria conspiratória de que os
chineses teriam lucrado com a pandemia. “Vossa excelência renega o que
escreveu. Aí, não dá!”, protestou o senador Omar Aziz.
Em outro momento, Ernesto disse que o ideólogo Olavo de Carvalho não era o guru da sua política externa delirante. “O senhor de fato é um homem muito ousado, muito corajoso”, debochou a senadora Kátia Abreu, antes de chamar o ex-ministro de “negacionista compulsivo”.
Apesar dos recuos e das gaguejadas,
Wajngarten e Ernesto não conseguiram blindar o chefe. O publicitário admitiu
que Jair Bolsonaro ignorou ofertas de vacinas da Pfizer. E o ex-chanceler
confirmou que o presidente deu ordens para negociar a importação de cloroquina.
Ernesto deixou claro que sua gestão estava
mais empenhada em travar lutas ideológicas do que em salvar vidas. Por
discordar do governo da Venezuela, o ministro se negou a colaborar com o
transporte de cilindros de oxigênio de Caracas para Manaus. Depois que a doação
chegou, ele se recusou a dar um mísero telefonema para agradecer.
PF laçou a boiada de Ricardo Salles
A Polícia Federal laçou a boiada de Ricardo
Salles. O ministro do Meio Ambiente foi o principal alvo da operação deflagrada
nesta manhã. A polícia investiga sua participação num esquema de exportação
ilegal de madeira.
A ação apura crimes de corrupção, advocacia
administrativa, prevaricação e facilitação de contrabando. O ministro Alexandre
de Moraes, do STF, determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Salles.
Ele também afastou o presidente do Ibama, Eduardo Bim.
O governo de Jair Bolsonaro subverteu a
razão de ser do Ministério do Meio Ambiente. Desde a posse do capitão, a pasta
foi capturada por interesses econômicos ligados à exploração predatória dos
recursos naturais.
Em vez de proteger as florestas, a gestão
de Salles estimulou a ação de desmatadores, grileiros e garimpeiros. Na reunião
ministerial de abril de 2020, ele escancarou sua estratégia: aproveitar a
pandemia para ir "passando a boiada". Era uma referência ao desmonte
da legislação e dos órgãos ambientais no Brasil.
Em tempos normais, a operação da PF levaria à demissão imediata do ministro do Meio Ambiente. Como estamos no governo Bolsonaro, é preciso esperar para ver. A política antiambiental de Salles não é uma obra de um homem só. Estava sempre deixou claro que cumpre ordens do presidente.
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