- Folha de S. Paulo
Ernesto Araújo desenhou Itamaraty que
funciona como peça auxiliar do negacionismo
Ernesto
Araújo disse na CPI da Covid que nunca recebeu orientações para
rejeitar parcerias que poderiam ajudar o país a produzir vacinas. Não foi
necessário. A comissão já mostrou que a arquitetura do governo Jair Bolsonaro
tornou praticamente impossíveis os esforços do país para salvar vidas na
pandemia.
A política externa desvairada de Ernesto
não foi uma exceção. A tensão contínua entre o Brasil e a China na negociação
de insumos para fabricar imunizantes só existe até hoje porque o governo
transformou o Itamaraty num joguete da direita radical.
O ex-chanceler tentou disfarçar, mas sabe que a diplomacia pode ajudar ou atrapalhar articulações desse tipo. No início da sessão, ele mesmo disse que o governo recebeu vacinas "graças à qualidade das nossas relações com a Índia". Depois, precisou reconhecer que a bajulação permanente a Donald Trump não havia rendido frutos nessa área.
Ernesto descreveu um Itamaraty que se
curvou aos delírios de Bolsonaro. O ex-chanceler afirmou ter intermediado um
telefonema do presidente à Índia para pedir milhões de comprimidos de um
remédio ineficaz. Admitiu, ainda, que nem sequer agradeceu à Venezuela pelo
oxigênio doado a Manaus durante a crise de desabastecimento na capital
amazonense. A coloração política do governo vizinho valeu mais do que as vidas
que estavam em risco.
A diplomacia funcionou como peça auxiliar
do negacionismo. Ernesto disse que trabalhou para adquirir cloroquina a pedido
do Ministério da Saúde e que a pasta foi a responsável pela recusa de parte das
doses de vacina disponíveis no consórcio Covax Facility. As duas decisões
ficaram na conta de Eduardo Pazuello, próximo depoente da comissão.
A CPI já desenhou a estrutura de um governo que reproduz com precisão as obsessões do presidente. Nos dias pares, os ministros se omitem e demonstram desinteresse pela imunização dos brasileiros. Nos ímpares, sabotam a relação com países-chave e perdem tempo com medicamentos ineficazes contra a Covid.
Nenhum comentário:
Postar um comentário