- O Globo
Como se sabe, Jair Bolsonaro ordenou a “um
tal de Queiroga” a tarefa de elaborar um parecer para desobrigar vacinados e
recuperados de Covid-19 de usar máscaras. Talvez desconfiado de seu ministro da
Saúde, que já deu declarações a favor delas, o presidente, ele mesmo, resolveu
invadir as cidades com as “motociatas”, como um Mussolini, promovendo
aglomerações e dando o exemplo de dispensar o uso das máscaras. O máximo de
punição que recebeu pela transgressão foi multa de R$ 552 em São Paulo; no Rio,
nem isso, apesar do comício acompanhado de quem ele chama de “meu gordinho”.
Os especialistas consideram uma “temeridade” a decisão presidencial, pois alertam que mesmo quem foi vacinado ou teve a doença pode transmitir o vírus a outras pessoas. E quem já teve a Covid-19 pode ter de novo, assim como quem foi vacinado pode contrair a doença de forma mais branda. Mas Bolsonaro convive mal com sensatez e verdade. Há pouco tempo, teve a coragem de afirmar que, quando foi infectado pela Covid-19, tomou hidroxicloroquina e “no dia seguinte estava curado”. Os devotos presentes não só acreditaram no milagre, como aplaudiram a descarada mentira.
Um bom tema para a CPI da Covid é
investigar como o governo gastou R$ 23 milhões em “tratamento precoce”. Depondo
ali, o médico sanitarista Claudio Maierovitch e a microbiologista Natalia
Pasternak compararam a cloroquina à fosfoetanolamina sintética, conhecida como
“pílula do câncer”.
Um projeto de lei que obrigava o governo a
fornecer a fosfoetanolamina sintética, ou “pílula do câncer”, foi julgado
inconstitucional pelo plenário do STF. O autor era ninguém menos que o então
deputado Jair Bolsonaro. Em quase 30 anos de Câmara, esse era o segundo projeto
de sua autoria. Como se explica essa sua atração por substâncias sem validade e
esse seu pendor curandeiro?
Quando se fala em pandemia, surge sempre a
Gripe Espanhola, a “mãe das pandemias”, de 1918-19, cuja lembrança aterrorizou
minha geração. Os professores citavam os jornais da época para que nós e nossas
famílias tomássemos cuidado. A manchete da Gazeta de Notícias do dia 3 de
outubro de 1918 era “O Rio é um vasto hospital”. A matéria dizia: “O povo sofre
horrores — não há médicos, não há remédios”. E o editorial “Socorro” advertia:
“De maneira assustadora, a epidemia alastra-se por toda parte”. Estima-se que a
tão temida Espanhola tenha causado cerca de 35 mil mortes. Pode parecer pouco,
comparado à Covid-19, que está chegando, se já não chegou, às 500 mil mortes.
Mas a população do país daquela época era de aproximadamente 28 milhões, hoje é
cerca de 213 milhões.
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Se você não aguenta mais ouvir falar de política, pois acha que se trata de um assunto árido e sem graça, assista ao papo de Natuza Nery, Julia Duailibi, Ana Flor e Andréia Sadi (quando voltar do resguardo). Além de bem informadas, com notícias de bastidor, elas tratam o tema com charme, originalidade e, sobretudo, humor. Só não falo na beleza dessas meninas porque vão me chamar de machista.
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